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“O Gangue da Chave-Inglesa” | Edward Abbey

Por Pedro Miguel Silva · Em 10/03/2020

Está revoltado com o mundo industrial ao ponto de querer abraçar o radicalismo e fazer da ecologia uma bandeira? Pois bem, então temos o manual perfeito para si, impresso sob a forma de um romance incendiário.

Escrito no ano de 1975 por Edward Abbey, “O Gangue da Chave-Inglesa” (Antígona, 2019) saltou rapidamente para fora das páginas, tendo inspirado, nos Estados Unidos, a criação do movimento ecologista radical Earth First! nos anos 1970, bem como outras formas de desobediência civil um pouco por todo o mundo que, mesmo desconhecendo as palavras de Abbey, muito a elas vão ainda beber.

“Estamos a lutar contra uma máquina demente que retalha montanhas e devora homens. Alguém tem de a tentar parar. E esse alguém somos nós”. São estas as palavras que acabam por juntar, de forma algo improvável, quatro insubmissos que decidem fazer algo com a revolta que sentem pela destruição do Oeste selvagem e o crescimento desenfreado, sem regras e pouco escrupuloso da indústria, com a benevolência e a cumplicidade do governo americano.

O Gangue da Chave-Inglesa, Edward Abbey, Crítica, Deus Me Livro, Antígona

Apesar de não contar com qualquer super-poder, este poderia sem dúvida ser visto como um quarteto fantástico, formado por George W. Hayduke, veterano do Vietname; Dr. A.K. Sarvis, um médico que poderia ser primo afastado do Imperador Nero; Bonnie Abzug, feminista de seis costados e meio; e Seldom Seen Smith, mórmon pouco convicto e guia muito experiente.

Um gangue que nasce convicto de que nada sabe sobre a sabotagem, mas que acredita que tal irá acontecer à medida que forem avançando, transformando a doutrina em prática, “garantindo com isso uma coerência teórica precisa”, percebendo claramente onde se encontra o inimigo.

O Gangue da Chave-Inglesa, Edward Abbey, Crítica, Deus Me Livro, Antígona Contra esta luta desigual, em que “o sonho dos engenheiros é um modelo de perfeita esfericidade, no qual todas as irregularidades do planeta Terra fossem removidas e as estradas se pudessem simplesmente pintar numa superfície tão lisa como vidro”, a solução passa pela insubmissão, percorrendo o país de chave-inglesa na mão e uma boa quantidade de dinamite nas mochilas, escondendo caixas que permitem a subsistência em diferentes geografias para quando for necessário ficar longe do radar por períodos longos. Até lá vão-se destruindo pontes, maquinaria e vias-férreas, tentando impedir que a ideia idiota de progresso humano não dê cabo de desertos, parques naturais e de outras maravilhas destruídas para dar lugar ao betão.

Uma bíblia da eco-sabotagem, escrita em modo e com a vertigem de uma de road storie, que nos coloca perante a necessidade cada vez maior de sermos todos activistas, sabotadores e desobedientes, travando um colapso global que parece iminente. Mais de quarenta anos depois, o activismo guerrilheiro de Edward Abbey continua a fazer todo o sentido. Tenham a postos a vossa chave-inglesa.

Nota de destaque para a belíssima edição da Antígona, que conta com as ilustrações originais de Robert Crumb que, por si só, valeriam a compra deste livro.

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Pedro Miguel Silva

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