Originalmente publicado em 2004 pela DC Comics, “O Esquadrão da Luz” (G. Floy, 2016) viu os direitos de publicação regressarem ao seu autor Peter J. Tomasi, o qual em 2014 tratou de o fazer regressar às prateleiras, agora através do selo Dark Horse. É a partir desta edição mais recente que nos surge a edição portuguesa pela G. Floy, uma editora que continua a demonstrar estar bem atenta a um panorama de BD norte-americana mais ligado à fantasia e à ficção-científica, adicionando agora, ao seu leque de livros da Marvel e da Image Comics, este da Dark Horse.
A acção tem início algures numa floresta belga, nos finais de Dezembro de 1944, quando um grupo de soldados americanos defronta um grupo de soldados alemães, que se revela muito mais perigoso do que parecia à primeira vista. Esta pequena facção de soldados nazis, trata-se na realidade dos Nephilim, descendentes entre humanos e os seus respectivos anjos vigilantes – os Grigori. Esta nova linhagem foi sempre condenada por Deus que, ao falhar na sua destruição acabou por unir os Nephilim e Grigori sobreviventes numa perpétua guerra contra o Seu reino. Esta é uma contenda entre o céu e os seus pecados, não existem demónios aqui, apenas anjos alados que defendem ideais diferentes, enfrentando-se continuamente nesta nossa Terra, acabando por envolver sempre os seus habitantes. É aqui que entra este grupo de soldados americanos, os quais irão desempenhar um papel preponderante ao serem recrutados para o exército de Deus, para criarem um esquadrão da luz.
Peter J. Tomasi demonstra aqui uma preocupação em misturar elementos históricos da segunda grande guerra com os da mitologia judaico-cristã, tais como os Nephilim ou o centurião que matou Cristo com a sua lança (a última chaga) e, agora, lidera este esquadrão da Luz. São elementos interessantes, mas muito pouco explorados pelo autor que rapidamente se foca, quase em exclusivo, na componente da batalha entre os dois lados inimigos, tanto na sua preparação como execução. Seria importante desenvolver melhor o incómodo de Deus com a miscigenação entre Anjo e Homem, uma revelação feita em tom de rodapé que parece ser suficiente para convencer este grupo de soldados. Claro que o caminho dos Nephilim agora é um de vilania, mas a forma como Deus é apresentado levanta questões pertinentes que infelizmente são ignoradas.
Para além da componente fantástica da acção, existe um outro foco nesta história, o qual será o seu grande tema e que se prende com a redenção de Chris Stavros, um soldado americano que perdeu a fé com a morte da sua mulher. Trata-se de um lugar bastante comum neste tipo de narrativas, a perda da fé derivada da perda injusta de um familiar, no entanto, será sempre mais fácil recuperar a nossa crença em Deus quando somos apresentados à sua genuína existência, algo que tira força à exploração da fé (precisamente uma crença sem provas) deste soldado. De resto e incluindo a própria caminhada pessoal de Stavros, estamos perante uma narrativa muito linear, onde qualquer desvio que surja em relação ao objectivo principal é mínimo, para não dizer desprezável. Todos aqui desempenham a sua função esperada até ao confronto final, entre anjos caídos e humanos elevados a uma condição superior.
Ao contrário dos anjos, o retrato deste Esquadrão da Luz sempre é mais desenvolvido, aqui existem personagens bem distintas que irão contribuir para a narrativa de forma diferente. Além do “filho pródigo” Chris Stavros, temos também o geek Simon, o honroso Hal ou o tempestuoso Jesse, com todos a desempenhar o seu papel de forma esperada, mas competente ao longo da resolução deste conflito.
Como estamos perante uma história mais envolvida no confronto físico do que no espiritual, o trabalho de Peter Snejbjerg é fundamental e, de facto, o autor consegue equilibrar bem a composição destas páginas, nomeadamente as suas sequências de acção sem parar. Quanto às personagens principais são facilmente distinguidas, graças a uma boa representação facial das suas características e emoções. Existe também uma clara intenção em dotar os anjos com uma aura de magnificência, algo em que o autor é bem triunfante. As cores de Bjarne Hansen são adequadas, sendo especialmente importantes nos elementos luminosos desta narrativa, os quais não são poucos. Por fim, não deixa de ser curioso que o protagonista Chris Stavros seja tão parecido fisicamente com o Jesse Custer de Garth Ennis e Steve Dillon em “Preacher”, quando religiosamente são duas personagens que se encontram em campos tão opostos.
Apesar de acrescentar diversidade às opções da G. Floy, este “Esquadrão da Luz” acaba por ser um dos seus títulos menos relevantes, estando bem afastado do entusiasmo gerado por séries como Fatale, Saga ou Southern Bastards.
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