“O eremita viajante” (Assírio & Alvim, 2016) é, no que toca à poesia, uma das grandes edições do ano em Portugal. Um livro que reúne, juntamente com uma acutilante introdução, a explicação das técnicas de composição do haiku ou a cronologia de uma vida, a obra completa do japonês Matsuo Bashô, senhor e mestre dos preciosos haikus.
Haiku que tem raízes no estilo poético denominado waka (literalmente “poema japonês”), praticado quando a literatura japonesa dava os primeiros passos após a libertação da influência cultural chinesa, que imperou até ao século VIII.
Matsuo Bashô nasceu no ano de 1644, a 320 quilómetros a oeste de Tóquio, com o nome de Kinsaku. Apenas aos 37 anos, e já depois de ter experimentado outros pseudónimos, se veio a estabelecer como Bashô, nome que remete para uma bananeira que havia plantado junto à cabana onde vivia e que pode ser interpretado como “refúgio da bananeira”.
Na extensa mas sumarenta introdução, assinada por Joaquim M. Palma – responsável pela organização e versão portuguesa desta edição -, acompanhamos o trajecto de vida de Bashô, a origem e evolução do haiku e o legado poético que este deixou, não apenas à literatura japonesa como a toda a literatura mundial (incluindo a portuguesa, onde se destaca Wenceslau de Moraes).
Bashô morreu a 28 de Novembro de 1694, com 50 anos. A sua última vontade foi ser sepultado nos terrenos do Mosteiro de Gichu-Ji e, junto à sua sepultura, plantou-se uma bananeira. Para a história ficaram os seus haikus, cada um deles portador de um enigma que contém a chave para a eternidade. Como este:
Num dia chuvoso de Verão
Ficarias feliz se te oferecessem
A face da lua?
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