É um daqueles thrillers que tinha tudo para dar certo, pelo menos até à entrada de um romantismo vestido de psicologia que, de forma inesperada, acaba por retirar muito do fulgor construído desde o momento em que, logo nas primeiras páginas, um homem caminha nu pelas ruas de Boston, trazendo nas mãos a cabeça decapitada de uma jovem mulher.
É assim o início de “O Dia em que Perdemos a Cabeça” (Suma de Letras, 2019), do espanhol Javier Castillo, que coloca o leitor no centro de uma investigação liderada pelo Dr. Jenkins, o director do Complexo Psiquiátrico de Boston – e psicólogo por convicção -, e Stella Hayden, uma agente do FBI perita em traçar perfis psicológicos. Uma investigação que irá colocar as suas vidas em risco, porá à prova a sua sanidade e fará com que tenham de regressar 17 anos atrás na linha temporal, de modo a desatarem os muitos nós dados por aquele que ficou, para os media, conhecido como “O Decapitador” – e cujo estatuto está entre o de doente mental e de impiedoso assassino.
Castillo oferece um thriller carregado de adrenalina, assombrado por um estranho asterisco preto, habitado por conspirações, atravessado por espíritos e futurologias, que alterna geografias e personagens numa trama em crescendo, que guarda para o final um epitáfio saído de uma bola de cristal. Pena mesmo que, pelo caminho, a psicologia amorosa e um parente do complexo de Estocolmo tenha deitado abaixo muitas das peças de um jogo de dominó meticulosamente montado.
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