• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
O Combate Quotidiano: Volume Um, O Combate Quotidiano, Manu Larcenet, Deus Me Livro, Crítica, G. Floy
Mil Folhas 0

“O Combate Quotidiano: Volume Um” | Manu Larcenet

Por Pedro Miguel Silva · Em 04/05/2022

Venceu o prémio para o Melhor Álbum no Festival de Algoulême em 2004 e, no ano seguinte, foi adaptado ao cinema por Lauret Tuel. Com argumento e desenhos de Manu Larcenet, um dos grandes nomes da BD francesa contemporânea, “O Combate Quotidiano: Volume Um” (Arte de Autor/A Seita, 2021) reúne os dois primeiros – de quatro – tomos originais, numa história profundamente humana – com um acentuado toque autobiográfico – onde há lugar para a comoção, o drama e a diversão.

No centro de tudo está Marco, um fotógrafo pouco praticante a braços com uma terapia que dura já há oito anos e que, nas palavras do psiquiatra – que vê a possibilidade de perder este cliente -, poderá durar outros oito: “Creio ppoder afirmar que desenvolve comportamentos profundamente obsessivos, acompanhados por neuroses diversas, também elas obsessivas…”.

Marco e o irmão, com quem fuma “grandes charros” para combater as muitas neuroses e os ataques de ansiedade, tratam-se ambos por Georges, tudo em homenagem a John Malkovich e ao filme “Ratos e Homens” – há um coelho que desempenha um importante nesta história de alcunha partilhada.

O Combate Quotidiano: Volume Um, O Combate Quotidiano, Manu Larcenet, Deus Me Livro, Crítica, G. Floy

Decidido a encontrar o seu lugar no mundo, bem como a esquecer as preocupações com a mãe, a meia-memória do pai e o facto de as suas fotografias se estarem a parecer com “cadáveres exóticos ou pessoas prestes a tornarem-se num”, Marco troca a cidade pelo campo, onde irá conhecer personagens como Adolf, um gato que encarna na pele e no pêlo o peso do nome, ou um filósofo acidental, com quem se cruza no campo, distribui ao acaso pérolas como “o amor não tem nada de confortável”, canta Jacques Brel ou mostra que há muito para ler nas entrelinhas da vida: “A fuga faz parte do combate”.

Manu Larcenet usa uma alternância de cores que se estende aos próprios desenhos. Alguns deles, como as cenas noctívagas ou aquelas que retratam os ataques de ansiedade de Marco, apresentam diversas rugosidades. Há também uma zona construída a preto e branco, que funciona como uma espécie de diário existencialista, onde Marco escreve sobre o psiquiatra, os pais, os seus medos e fobias, as muitas crises de angústia ou o medo terrível do comprometimento amoroso – a sua namorada veterinária está pelos arames.

Manu Larceneta aborda temas tão diversos como a tentação fácil de ir atrás dos soundbytes, a forma como a ideologia facha seduz os menos incautos, a importância da ética ou o binómio artista/obra, tão em foco nestes tempos onde vai imperando o revisionismo e a cultura do cancelamento. O segundo e último volume deste combate quotidiano está já disponível nas livrarias.

O Combate Quotidiano: Volume Um, O Combate Quotidiano, Manu Larcenet, Deus Me Livro, Crítica, G. Floy

Nascido em 1969, Emmanuel “Manu” Larcenet estudou artes gráficas no liceu em Sèvres, frequentando depois um curso de Artes aplicadas, numa Escola de Arte. Vocalista de uma banda Punk na adolescência, publicou as suas primeiras ilustrações e bandas desenhadas em fanzines de música. Em 1994 inicia a sua carreira profissional na BD com uma colaboração regular com a revista Fluide Glacial. A par com a sua produção para a Fluide Glacial, Larcenet colabora também com a revista Spirou, onde assinou a série Pedro le Coati, com desenhos de Michel Gaudelette.

O Combate Quotidiano: Volume Um, O Combate Quotidiano, Manu Larcenet, Deus Me Livro, Crítica, G. FloyEm 2000, Manu é convidado pelo editor Guy Vidal para integrar o selo Poisson Pilote, da Dargaud, onde se junta a Joann Sfar e a Lewis Trondheim, para quem desenha a série Les Cosmonautes du Futur, e ao seu irmão Patrice, com quem faz as séries Les Entremondes e Une aventure rocambolesque de…

Com Sfar e Trondheim, Larcenet colaborou também na série Donjon, para a editora Delcourt, ilustrando cinco álbuns para o ciclo Donjon Parade. Depois do Combate Quotidiano, e na sequência da sua mudança para o campo, Larcenet tem alternado projectos mais pessoais, publicados pela sua editora Les Rêveurs, com obras de maior fôlego, para a Dargaud, como o tour de force gráfico e narrativo que é a série Blast, ou a magnífica e perturbadora adaptação do romance de Philippe Claudel, Le Rapport de Brodeck.

A SeitaArte de AutorCríticaDeus Me LivroManu LarcenetO Combate QuotidianoO Combate Quotidiano: Volume Um

Pedro Miguel Silva

Pode Gostar de

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular, Mil Folhas

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
  • Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria, Mariana Enriquez, Deus Me Livro, Crítica, Quetzal,

    “Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria” | Mariana Enriquez

    30/04/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto