“Quase toda a gente disse que não estava bem que o cão tivesse derrubado o rapaz e o tivesse mordido, mesmo que ele o merecesse. Se calhar tinham razão. Mas eu não podia culpar o cão. Se fosse tão grande e forte como ele, talvez tivesse feito bem pior!”
Quem o diz é a Violeta, irmã do Zé e narradora de “O cão que comia a chuva” (Porto Editora, 2016), isto a propósito de Adão, um border collie com o focinho e o corpo divididos num preto e branco que, para defender o dono, quase tirava um pedaço a um miúdo que o estava a magoar.
Esta é a história do Zé contada pela irmã mais nova, um miúdo bem formado, carinhoso e grande amigo do seu cão que, quando fazem troça por Adão morder a chuva, “responde com orgulho que o cão tem uma natureza poética“.
Aos poucos, porém, a vida na casa familiar começa a mudar. Um dia, o Adão recusa-se a subir as escadas para ir dormir, mesmo que do cimo das escadas lhe acenam com alguns dos seus petiscos favoritos. Quanto ao Zé, torna-se taciturno, começa a responder de forma torta e diz querer abandonar a música e o violino, uma – senão a maior – das suas grandes paixões. Quando começa a tratar mal o Adão, percebe-se que algo de estranho se passa com o pequeno, ainda que este se remeta ao silêncio sobre as razões da sua mudança de comportamento.
História de Richard Zimler sobre o bullying e os efeitos nefastos que este exerce sobre os mais frágeis e o ambiente que os rodeia, “O cão que mordia a chuva” conta com imagens de Júlio Pomar, que misturam de forma muito artística esquissos, objectos reais e fotografias, tudo embrulhado num surpreendente efeito 3D.
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