Quando Robert Jordan se aproximou da última paragem terrena, e perante o cenário de faltarem ainda três volumes para a conclusão da fabulosa série A Roda do Tempo, a escolha para a co-autoria do terceto final não poderia ter sido mais acertada: Brian Sanderson, professor de Escrita Criativa na Bringham Young University e um dos mais entusiasmantes escitores de fantasia de todos os tempos.
Em Portugal, o que está disponível do escritor norte-americano reduzia-se à publicação, pela Saída de Emergência, da trilogia Mistborn (ou Nascida nas Brumas, na tradução) – esticada para 4 volumes na edição portuguesa -, que se estendeu ainda por uma nova série de quatro volumes, que nunca chegou a conhecer publicação no nosso país. As boas notícias para os fãs de Sanderson e de fantasia chegaram em 2024 pela mão da Kathartika, editora que decidiu avançar com a publicação, espera-se, da série O Arquivo das Tempestades, que consistirá em 10 livros e alguns volumes soltos – as chamadas novellas, mais curtas que romances e mais longas do que contos. Até ao momento, estão publicados 5 livros e 2 novellas.
No arranque de “O Caminho dos Reis” (Kathartika, 2024), Brandon Sanderson refere que “este livro representa o meu maior (no sentido de mais longo, pelo menos) trabalho enquanto romancista”, transportando a sua origem para uma ideia que teve ainda enquanto adolescente. Uma história “sobre um rei assassinado e o seu irmão que tentava juntar os cacos do reino”. Um livro que é “a quarta encarnação da algo que passei vinte anos a tentar escrever”. O arranque requer do leitor a máxima atenção e a total suspensão da descrença mas, ao fim de uns poucos capítulos, sentirá estar a embarcar numa viagem épica, na qual se podem descobrir magia, fé, religião, ciência e política, os temas centrais do universo de Sanderson.
À semelhança de Mistborn, há magia para a qual são necessárias instruções. Se, em Mistborn, nos habituámos a saber tudo sobre metais e as suas transformações e usos, aqui temos os Enlaçamentos – básicos, inversos ou completos -, mas Sanderson consegue tornar tudo simples, apresentando no final do volume uma explicação detalhada sobre cada um deles, assim como tudo sobre as dez essências e as suas associações históricas ou os fabriais e a sua criação.
A história centra-se no assassinato do rei Gavilar por Szeth, um Sem-Verdade, um acontecimento que irá despoletar uma guerra sem tréguas entre os alethis e os parshendis. Ao longo de cerca de 1000 páginas, Sanderson cria com habilidade uma galeria de personagens fascinantes: Shallan, uma mulher com a missão ingrata de salvar a sua família da ruína, dividida entre a necessidade do roubo e a paixão pelo conhecimento; Jasnah Kolin, que procura entender a razão do assassinato do seu pai – o rei Gavilar – pelos parshendis, mas também conhecer a origem dos Portadores do Vazio – que a maioria das pessoas via como “espíritos malignos que caçavam à noite, uma espécie de esprene maligna que invadia o coração dos homens e os obrigava a fazer coisas terríveis”, e que ao longo do tempo foram repelidos pelos Arautos e os Cavaleiros Radiantes; Kaladin-Abençoado-Pela-Tormenta, um guerreiro extraordinário reduzido ao papel de escravo e pontista, para a qual o destino reserva muito mais do que isso; ou Dalinar, irmão do rei assassinado, que tal como este começará a questionar o cenário de guerra, imerso em visões que o impelem a “unir todos”, um estado que todos consideram próprio de um louco.
Se gostam de fantasia, “O Caminho dos Reis” é uma obra-prima a todos os níveis, com duelos e batalhas épicas, traições infindáveis, uma história envolvente, um cenário de fantasia construído com esmero e um sistema de magia intrincado mas percepível, que reafirma Brandon Sanderson como um dos grandes mestres no activo. “Palavras de Radiância”, o segundo volume de O Arquivo das Tempestades, já está disponível em pré-venda.
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