“Ter ou não ter um final feliz, depende de onde decides terminar a história.”
É com Orson Welles que entramos nesta novela gráfica, juntamente com uma imagem de quatro pessoas caminhando na falésia. Será o precipício uma constante nesta história? E o que representa o precipício nesta trama: a solidão? Os relacionamentos? Ou as dificuldades de um mundo moderno constantemente conectado mas cada vez mais só?
“Novembro” (Levoir, 2019) é a primeira incursão a solo de Sebastià Cabot, tendo o autor escolhido um grupo sugestivo para servir de veículo à sua narrativa. Gus, activo social e amorosamente, tem dificuldades em manter relações duradouras, contracenando com Clara, com quem descobrirá diferenças nessa forma de viver as relações. A partilhar experiências, casa, amizades e desventuras surge Mário, desempregado, e Lucía, mais animada e descontraída. Personagens que trazem novos assuntos para a discussão: a pressão social, a amargura mascarada, a maturidade que tarda e, claro, as novas tecnologias.
“Novembro” pretende espelhar uma desilusão transversal que pauta as vidas actuais, e talvez por isso a tonalidade que predomina nesta novela gráfica sejam cores escuras e esbatidas, havendo apenas episódios pontuais de cor. A música está também bastante presente, ou não fosse Gus empregado de uma loja de vinil vintage – até isso representa uma tendencial actual com queda para a nostalgia.
“A fine romance”, tema que o autor nos diz ser interpretado por Billie Holiday, paira nas nossas cabeças ao longo de todo o desenlace, esperando o leitor que o momento de felicidade seja aquele em que Cabot pare a história. Até lá, mais música e cinema unem bem os ingredientes deste romance que testemunha os tempos atribulados de hoje.
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