Quando, na contracapa, lemos que levou para casa o Waterstones Children’s Book Prize em 2018, e que alguém decidiu falar dele como “uma aventura ao estilo de Harry Potter“, é natural que a fasquia pré-leitura seja colocada ao nível do recorde europeu do salto em altura. Pois bem, esqueçam a parte do Harry Potter. “Nevermoor: O Desafio de Morrigan Crow” (Nuvem de Letras, 2018), primeiro livro de Jessica Townsend, tem matéria suficiente para conquistar um espaço só seu, sem que sejam necessárias comparações com o universo paralelo (e praticamente imbatível) de Hogwarts.
Morrigan Crow é uma daquelas pessoas de quem se pode dizer que nasceu na hora errada e no lugar errado. O momento em que deixou o útero materno coincidiu com o preciso momento em que, na cidade, tiveram lugar vários infortúnios, pelo que a partir de então ficou com o ónus de todo o mal presente e futuro, seja ele público ou privado. E, pura chatice, destinada a morrer quando bater a meia-noite do dia em que completar 11 anos. Uma ideia que foi germinando e sendo assimilada ao logo dos anos, ajudada em muito pelo desinteresse que os seus pais foram pondo na sua curta existência, que trataram de fazer da ignorância uma bênção.
Porém, pouco tempo antes de o relógio estacionar no momento da aniquilação, entra em jogo um tipo chamado Jupiter North, que a leva para a cidade secreta de Nevermoor. Mas não pensem que se trata de um campo de férias. Para provar que poderá permanecer nesta improvável cidade, Morrigan terá de mostrar o seu valor, superar alguns desafios e trazer para a frente o talento especial que todos os outros insistem ter, apesar de não saber onde raio se meteu. Caso não o consiga, não lhe restará outra opção senão a de regressar a casa e enfrentar a anunciada guilhotina.
Aficcionada de transportes públicos, cidades antigas, hotéis, Natal, cantores de ópera, Noite das Bruxas, sociedade secretas e gatos gigantes, Jessica Townsend arranjou forma de integrar tudo isso em Nevermoor, criando um universo com o mesmo espírito alucinogénico do país onde foi parar Alice. Tudo isto enquanto coloca Morrigan em frente aos olhos do leitor, que aos poucos a vai vendo sair das sombras para se transformar num bem posto cisne, consciente de que é, também, merecedora do amor e do afecto de que se viu negada durante uma década a preto e branco.
Um livro habitado pela magia e pela fantasia que, muito em breve, irá chegar às salas de cinema pelos estúdios da Twentieth Century Fox. Quanto a livros, está já disponível nas livrarias portuguesas a segunda aventura Nevermoor, de que falaremos mais para a frente: “Wundersmith: O Destino de Morrigan Crow”.
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