Estamos em 1899, no coração de uma guerra de espionagem entre o Império Britânico e a Grande Rússia dos czares. Tudo pelo controlo do Raj, o território colonial britânico das Índias. Uma guerra secreta conhecida como «O Grande Jogo», e ao qual os russos preferiram chamar “O Teatro das Sombras” (A Seita/Arte de Autor, 2022), nome do primeiro de três volumes da série Nautilus, que conta com argumento de Mathieu Mariolle e desenhos de Guénael Grabowski.
Kimball O`Hara é “o símbolo da perfeito harmonia entre ingleses e indianos”, nas palavras do reputado Lorde Curzon. Mas só até ao dia em que se vê injustamente acusado de ter colocado uma bomba – que matou dezenas de pessoas que iam a bordo do HMS Northampton -, tendo de fugir para poder provar a sua inocência, que poderá estar num cofre a uma profundidade à qual ninguém consegue descer. Ninguém a não ser Nemo que, segundo rezam as lendas, terá construído um engenhoso submarino, mas terá morrido numa ilha misteriosa há alguns anos. Outros, porém, dizem estar vivo nas garras da polícia secreta russa, que o mantém preso em lume brando na «Casa dos Mortos», prisão erigida sobre os contrafortes do lago gelado de Balkhach, a pique numa falésia. Como Cruise, Kimball terá aqui a sua Missão Impossível, obrigado a cometer de uma vez os dois erros que lhe ensinaram a evitar: confiar em alguém e atirar-se para a boca do lobo.
Para o final deste primeiro volume de Nautilus estão guardados desenhos, estudos iniciais e um bem desenhado posfácio, assinado por Mathieu Mariolle, que nos conta de onde nasceu a ideia para esta série: a partir de um livro de Sherlock Holmes, no qual este se cruza com personagens secundárias de “Kim”, um livro assinado por Rudyard Kipling. Mariolle decidiu então imaginar, através da espionagem, o jovem Kim a tornar-se adulto, sendo o capitão Nemo a ponte para chegar à Índia colonial. “Uma associação de ideias meio maluca à primeira vista, mas cuja permanência nunca me abandonou”, escreve Mariolle. A tudo isto juntou-se o tremendo fascínio por Jules Verne, bem expresso nesta fusão entre os universos literários e muito imaginativos de Verne e Kipling. O regresso de Nautilus continua nos dois próximos volumes.
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