Quatro décadas depois de uma mãe ter afogado dois dos seus filhos, Laura Alcoba mergulha nesta história trágica e procura desvendar o que aconteceu em “Naquele Dia” (D. Quixote, 2025). Se a premissa ousada desta história nos deixa incrédulos, a leveza com que é contada ainda nos obriga a franzir mais o sobrolho. A autora relata-nos, de forma crua, um infanticídio cometido em Paris, através do testemunho dos seus protagonistas – a mãe assassina, a filha que lhe sobreviveu e a professora Colette, que lhe salvou a vida.
A história de uma tarde atípica de Dezembro de 1984 é-nos descrita por meio de palavras e memórias, dos que mais sofreram com a mesma. Laura Alcoba encontra-se com a mãe Griselda e a filha Flavia, separadamente, num café parisiense, e lê-lhes a alma, que se encontra transcrita nas 176 páginas do seu livro.

Sabendo à partida que se trata de uma obra verídica, nutrimos por esta trama sentimentos mais profundos que variam entre a pena, a raiva e a incompreensão – o que contrasta, aliás, com a serenidade e a tranquilidade da mãe e da filha. Uma relação que poderia ter terminado mal pela força das circunstâncias mas que, em oposição, perdura no tempo e parece pautada por amor e orgulho.
A loucura que se encontra espelhada “Naquele Dia” levou à morte, mas careceu de uma grande sentença, facto que não escapou ainda assim às palavras de Laura Alcoba. Se fosse uma frase, este livro seria uma cantada pela fadista Mariza: “Há dias que marcam a alma e a vida da gente“. Um romance fruto de um dos maiores erros humanos, que desafia os limites da nossa compreensão.
Sem Comentários