Quantos museus existem em Lisboa? Esta pergunta, tão simples de formular, é mais complexa do que parece, como explica Covadonga Valdaliso em “Museus de Lisboa” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2021): por um lado, é necessário acordar uma definição de museu; por outro, não existe, ou parece não existir, uma lista completa das instituições assim classificadas, com informações apresentadas de maneira homogénea.
A partir do projecto de explorar todos os museus da capital portuguesa como se, juntos, fossem apenas um, em busca de ligações, paralelismos e singularidades, aliando a vontade de compreender ao desejo de ser surpreendida, a autora desenvolve uma obra envolvente, que convida os leitores a iniciarem as suas próprias explorações.
Além da história do nascimento e da evolução do conceito de museu, enquanto centro de conservação de objectos para fins de ensino e preservação da memória, há muita informação prática nestas páginas, incluindo preços, horários, percursos possíveis e outras questões logísticas que devem ser tidas em conta na organização de visitas. Todavia, não se trata de um guia nem de um relatório. Perante várias abordagens alternativas, a ideia de uma investigação mais focada e racional foi abandonada a favor de uma reflexão multifacetada que transmite uma sensação de fascínio contagiante.
Navegando entre vitrinas, estantes, paredes, memórias conservadas ou criadas, guias, catálogos, folhetos e páginas na internet, a autora conta como um visitante pode encontrar peças com histórias singulares, algumas dignas de romances, embora os critérios que determinam o que é ou não exibido nem sempre sejam evidentes. Tanto eles como a apreciação das peças são mutáveis, transformando um museu numa “acumulação de discursos criados em presentes sucessivos”.
É assim que Lisboa, à semelhança de outras cidades, “narra-se a si própria a partir do resgate de peças de outros tempos trazidas para a superfície e destacadas com placas e tabelas”, como se fizesse psicoterapia e usasse os museus para conservar, ordenar e mostrar as suas recordações. Porém, cada um têm a sua própria dinâmica, com reorganizações, exposições temporárias e actividades esporádicas, o que adiciona um certo grau de imprevisibilidade a cada visita. Nota-se ainda, da parte de muitas instituições, uma vontade de adaptação aos novos tempos, através do investimento em elementos interactivos. A existência de lojas e espaços de restauração no interior também é analisada, inclusivamente em termos da integração do museu na rede urbana.
Após ter visitado dezenas de museus, presencialmente e virtualmente, colecionado bilhetes, registado percursos e anotado impressões, a autora acredita que ainda há espaços e objectos que não receberam a devida atenção e merecem ser revisitados. Graças à sua curiosidade e ao empenho no projecto, este livro, escrito como um “conjunto de episódios de uma viagem que ainda não acabou” e integrado na colecção Retratos da Fundação, oferece de facto um retrato apelativo de uma vasta realidade da qual muitos leitores conhecerão apenas uma parte, despertando a sua curiosidade o suficiente para entrarem no museu mais próximo.
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