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Murtagh, Deus Me Livro, Edições Asa, 1001 Mundos, Crítica, Christopher Paolini
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“Murtagh” | Christopher Paolini

Por Pedro Miguel Silva · Em 15/01/2024

Se, durante a leitura de “Murtagh” (Edições Asa, 2023), se sentirem na pele de Bill Murray no Copolliano “Lost in Translation”, não liguem de pronto para a Literatura 24 a darem conta dos estranhos sintomas que vão piorando de parágrafo para parágrafo. “Murtagh” é, muito provavelmente, o livro com a pior tradução e revisão que nos passou pelas mãos nos últimos anos – e olhem que foram muitos -, com erros para todos os gostos: troca nos géneros, palavras mal escritas, artigos que se viram atirados às urtigas, pontuação errada, espaçamento à larga e, pasme-se, designar a certa altura uma personagem pelo nome errado – um pouco como ver Terry, da recomendada série “Brooklyn 99”, falar de si na terceira pessoa.

O que é uma pena, tendo em conta de que falamos do regresso de Christopher Paolini ao mundo de Eragon, mais de uma década depois de o ter encerrado, pensávamos nós, com “Herança”. O ensaio para o regresso tinha sido dado em “O Garfo, a Bruxa e o Dragão” (Asa, 2018), que decorria um ano após Eragon ter partido em busca de um lugar perfeito para treinar uma nova geração de Cavaleiros do Dragão, acabando metido em tarefas pouco entusiasmantes para quem está habituado à boa vida das aventuras: construir a Fortaleza do Dragão, entender-se com todo o tipo de fornecedores, cuidar de ovos de dragão e lidar com as desavenças e amuos de Urgals e Elfos.

Foi aos 15 anos que Cristopher Paolini escreveu a sua primeira versão de Eragon, personagem que viria a estar no centro de uma série de fantasia lançada em quatro volumes – depois de uma ideia inicial de trilogia -, e que teve como clara inspiração o universo de Tolkien. Uma saga literária que, com os seus altos e baixos, levou muito bom adolescente – e adulto – a entrar nos domínios da fantasia, acompanhando a história de Eragon, um rapaz camponês sem grande futuro pela frente que, ao descobrir acidentalmente um ovo de dragão, vê a sua vida transformar-se, treinado por um mentor com o objectivo de derrotar um malvado imperador – posto desta forma, parece um cruzamento entre O Senhor dos Anéis e Star Wars.

Desta vez, Paolini entrega o protagonismo a Murtagh, o meio-irmão de Eragon que, apesar de ter desempenhado um papel fundamental na derrota de um rei maléfico conhecido como Galbatorix, ficou impresso nos manuais da história de Alagaësia como um tipo ruim, condenado a deambular pelo mundo com o seu dragão Thorn enquanto pensa numa forma de voltar a cair nas boas graças de Nasuada, a rainha por quem desde sempre teve mais do que um fraquinho.

A oportunidade surge quando, às suas mãos, vai parar “um pedaço de pedra, mas com um brilho profundo, como se estivesse enterrado lá dentro um carvão em brasa. Agarrado à pedra, um cheiro sulfuroso, tão pungente quanto um ovo podre”. O que parece confirmar os rumores e aquilo que o velho dragão Umaroth lhes disse antes de terem partido para o seu auto-imposto exílio: “Cautela com as profundezas, e não caminhes onde o chão se torna negro e quebradiço e o ar cheira a enxofre, pois nesses lugares se esconde o mal”.

Para saber mais sobre a pedra, terá de aceitar a proposta da felinumana Carabel, e uma missão que os levará às catacumbas do poder e da tortura. Uma missão que acaba por ser um pouco para meninos, isto se tivermos em conta o que virá a seguir: rumar à terra da feiticeira Bachel e dos Sonhadores, um lugar com ar de culto onde poderá estar em marcha um plano para transformar o mundo.

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“Murtagh” fica a alguns centímetros do que era desejado neste regresso, sobretudo se tivermos em conta ser dedicado a uma personagem que, durante grande parte da sua vida, esteve do lado negro da força – e que mesmo agora é olhado com desconfiança. A escrita de Paolini retoma o balanço dos livros anteriores, e talvez seja estranho, para aqueles que na altura eram adolescentes e são agora adultos, mergulhar num livro que parece ter sido escrito pelo mesmo adolescente que nos trouxe Eragon. Ainda assim, a viagem vale a pena para fãs de longa data – os novos deverão começar por ler “Eragon”.

Christopher Paolini terá tempo de limar as arestas nos próximos volumes, uma vez que deixou a promessa de vários regressos: “Então, sim, há muito mais por vir, tanto em Alagaesia quanto no Fractalverso. Tenho histórias para contar, pessoal!”. Venham elas.

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Pedro Miguel Silva

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