Se, numa conversa entre amigos, alguém nos falasse de um filme que havia misturado em doses bem servidas whisky com lobisomens, provavelmente arriscaríamos tratar-se de mais uma demanda quixotesca de Roberto Rodriguez – que, se pensarmos bem, até já deve ter misturado as duas coisas em qualquer ponto do seu percurso.
Vencedora de inúmeros prémios Eisner pelo clássico noir 100 Balas, a dupla de centrais constituída por Brian Azzarello e Eduardo Risso é a responsável por esta estranha mistura levada aos comics, numa série a que deram o nome de Moonshine.
“Sangue e Whisky” (G. Floy, 2018), o primeiro volume, transporta-nos até 1929, ano em que vingava a Proibição – ou, se preferirem, a Lei Seca. Lou Pirlo, um gangster de Nova Iorque que até então se tinha valido da sua carinha laroca e de um cartão-de-visita que dizia qualquer coisa como “O Joe mandou-me”, é incumbido de viajar até aos inóspitos montes Appalachia, para negociar cara a cara com Hiriam Holt, um fornecedor de bebida ilegal que, segundo rezam os boatos alcoólicos, fabrica o Moonshine, supostamente o melhor whisky que o dinheiro – pelo menos naquela altura – pode comprar.
“Quando bebo, a minha memória não é grande coisa. E eu bebo”. Palavras de Lou que, depois de perceber que Holt não está disposto a vender a sua pomada – e com o pescoço em risco caso falhe a missão comercial -, percebe que poderá explorar alguma tensão familiar, levando a que um dos lados da família – o seu, espera – vença o combate pela exportação.
Lou começa, porém, a pressentir que há algo de muito errado com o negócio desta família, num prenúncio de catástrofe que lhe chega através de um sonho, num aviso saído da boca da sua irmã morta: “Estás a afogar-te mas não na água, nem no Inferno ou na bebida. Estás a afogar-te em sangue”.
Com uma atmosfera que mistura o assombro com a sedução, Moonshine leva as histórias de vampiros a outro patamar, para o qual convém andar sempre com uma garrafa de água e uns comprimidos para a dor de cabeça por perto, não vá a ressaca fazer das suas. As dark as it gets, apetece dizer enquanto se bebe um copo de penalti.
Sem Comentários