É um dos grandes lançamentos de banda desenhada do ano em Portugal, um livro monumental de 360 páginas que, durante quase três décadas, esteve a amarelecer dentro de uma gaveta. Em 1984, Barry Windsor-Smith planeou uma banda desenhada do Hulk para a Marvel que, por razões não avançadas, acabou por não se concretizar. No dia 27 de Abril de 2021, 37 anos depois, “Monstros” (G. Floy, 2022) teve edição pela Fantagraphics, estando agora disponível em Portugal numa edição em capa dura e em grande formato com o selo da G. Floy. E não é, diga-se, uma história sobre Hulk, mas antes sobre os vários tipos de monstros, reais e metafóricos, criados pela Humanidade.
Estamos em 1964. No centro da história está Bobby Bailey, um rapaz de 23 anos sem grande sustento, que quer entrar para o Exército. Sem número de segurança social, certificado de nascimento ou diplomas para mostrar, acaba por passar por um quase sem-abrigo. As Forças Armadas vêem neste anonimato uma oportunidade, e acabam por atirar Bobby para um muito duvidoso projecto chamado Prometeu. Uma experiência secreta dos EUA, que é a continuação macabra de um programa genético descoberto na Alemanha nazi, 20 anos antes, no final da 2.ª Guerra Mundial.
À boleia de um sentimento de culpa que lhe vai corroendo as entranhas, o único aliado de Bailey e o seu protector será o sargento McFarland, que ao chegar-se à frente dará início a uma sequência de eventos que rapidamente se descontrolam, e que envolvem espiritismo, vidência e uma dose generosa de violência.
Mistura de drama familiar, thriller militar, jornada metafísica e crítica política e social, “Monstros” toca em temas como a angústia pós-guerra , revisitando a história americana e a formas como esta trocou as voltas a pelo menos duas gerações. Uma das mais incríveis fatias deste “Monstros” decorre quando, num regresso ao passado, conhecemos a fundo a vida dos Bailey, graças a uma história alimentada pelo diário e a escrita da mãe de Billy, que confere uma dimensão humana a esta história feita de assassinatos, loucura e algum canibalismo.
Mestre do lápis e da tinta, Barry Windsor-Smith retratou tanto o lado mais monstruoso da humanidade como a sua geografia mais sensível. Numa mistura de ternura, dor, violência, sacrifício e redenção, entra nas enciclopédias da BD como um dos seus grandes épicos literários.
Barry Windsor-Smith começou a carreira como um jovem fã de comics, onde ilustrava personagens da Marvel como os X-Men e o Demolidor, no estilo tradicional da Marvel do final da década de 60. A partir de 1971, rompeu com a fórmula Marvel ao começar a ilustrar Conan, chamando a atenção com a sua abordagem estilística inovadora e estilizada, conquistando o respeito dos seus pares e fãs e granjeando inúmeros prémios da indústria. Parte de uma geração de jovens artistas que incluía os compatriotas Berni Wrightson, Mike Kaluta e Jeff Jones, Windsor-Smith traçou o seu próprio caminho independente. Nos anos 90, criou, escreveu e ilustrou três series de comics independentes: “The Freebooters”, “Young Gods” e “The Paradox-Man”. Em 1999 e 2001, a Fantagraphics publicou dois livros de arte autobiográficos seus, os volumes 1 e 2 de “Opus”. “Monstros” é a sua primeira obra em 16 anos.
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