John Green é um autor de romances fofinhos mas sem grandes lamechices, que um dia decidiu que o mundo dos adolescentes seria a sua praia de sonho literária. E a verdade é que o autor norte-americano tem cumprido a missão com distinção, à boleia de livros como “A Culpa é das Estrelas” ou, sobretudo, “Cidades de Papel”, onde traça um retrato dos dilemas que atravessam a adolescência. “Mil Vezes Adeus” (Asa, 2017) é mais uma aventura teen que nos apresenta a duas personagens singulares, cada uma delas mergulhada nos seus traumas.
Aza é uma miúda com graves problemas de ansiedade, que não consegue tirar da cabeça a ideia de sermos “uma colónia de bactérias num invólucro de pele“. Transpira constantemente e tem o dedo, pelo menos na sua imaginação, constantemente infectado, o que a obriga a mudar o penso várias vezes ao dia, cumprindo toda uma série de rituais. Conduz um carro que baptizou de Harold, onde é possível ouvir, nos altifalantes estragados, rádio ou o lado B de uma cassete encravada de Missy Elliott.
Quanto a Davis é um menino rico com uma alma devastada, apaixonado pelas estrelas e escritor de poesia num blog obscuro que não partilha com ninguém. Ambos perderam pessoas que amavam, debatendo-se com batalhas interiores quase sempre cercados pelo silêncio.
Russell Picket, o pai de Davis, desapareceu na noite anterior ao raide policial da sua casa, relativo a uma investigação de fraude e suborno. Russell havia deixado toda a sua fortuna a sua tatuana de estimação, um “animal mágico” que pode viver mais de cem anos.
Quando surge a notícia de que há uma recompensa de 100000 dólares para quem encontrar o pai de Davis, Daisy, a melhor amiga de Aza, decide que é hora de puxarem dos seus galões detectivescos, resolvendo o mistério do desaparecimento do milionário.
Daisy que é, apesar do papel secundário, a personagem mais cool deste romance, ela que escreve uma esmerada ficção de fãs sobre o Chewbacca e que vai cuspindo constantemente pérolas como esta: “A sanidade mental na adolescência é coisa do século passado“.
John Green baralha e volta a dar uma história sobre o amor e a amizade, mantendo o sentido de humor e as questões existencialistas que atravessam a adolescência – e que muitas vezes permanecem na idade adulta. Mais um clássico Greeniano.
1 Commentário
Amo esse livro, é minha espiração.