Se o americano Cormac McCarthy decidisse, um dia, trocar as voltas aos leitores e fazer da sua prosa poesia, muito provavelmente iria chegar perto do território de “Mapas” (Tinta da China, 2019), e de uns versos que rezassem assim:
“(…) Íamos
para lá nos carros dos nossos pais – passando
as vivendas principescas – rumo a cruzamentos em rosa
dos ventos, semáforos amortalhados em musselina,
no baloiço lento da brisa morna do verão,
o ar tão denso de pinho que se ouvia
o martelar das obras a milhas de distância.”
Nascido em Cleveland no ano de 1974, o americano John Freeman escolheu Nova Iorque como casa. É escritor, crítico literário e writer-in-residence na New York University. Escreveu dois livros de não ficção – The Tyranny of E-mail e Como Ler Um Escritor (Tinta da China, 2013) -, e tratou da organização das antologias Tales of Two Cities e Tales of Two Americas. Foi editor da Granta em língua inglesa durante vários anos, e o grande dinamizador do seu processo de internacionalização. Em 2015 fundou a revista literária Freeman`s, que dirige desde então e que conta já com edições internacionais – e que motivou o convite para participar numa mesa na última edição do Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos (ler sobre isso aqui). É também editor executivo do LitHub, um website dedicado à literatura e à cultura livresca. Os seus poemas têm sido publicados na New Yorker e na Paris Review, e “Mapas” é o seu primeiro livro de poesia.
Trata-se de um livro de poesia que se lê quase como se estivéssemos numa cartografia da prosa, “onde cada lugar era um outro lugar”, e que mostra o reverso do mundo e os seus inseparáveis opostos: destruição e renascimento; amor e desamor; beleza e fealdade; memória e esquecimento. Qualquer coisa como postais ilustrados sob a forma de verso, fotografias a preto e branco de cenários de guerra, tanto física como psicológica, que nos levam a procurar refúgio num abrigo anti-aéreo – onde há um Bentley`69 ou um elefante do Bornéu – ou a reviver, hora após hora, um primeiro encontro amoroso ou uma incurável separação. Um mapa da fragilidade humana que se percorre com espanto.
Sem Comentários