Para os mais ou menos supersticiosos, o número 13 costuma ser portador de má sorte, um arauto de péssimos augúrios. No caso de Harry Hole, criação maior do norueguês Jo Nesbø, 13 é número mais do que suficiente para fazer a festa. “Lua de Sangue” (Dom Quixote, 2024), o 13º volume da série protagonizada por um detective com métodos de investigação pouco ortodoxos, uma sede alcóolica que parece ser insaciável e uma apetência para estragar tudo aquilo em que toca – sobretudo relações humanas -, mostra que Nesbo continua a ser o rei da ficção policial escandinava.
Por esta altura, Harry Hole está retirado da polícia e a viver em Los Angeles, sem quaisquer planos para regressar a Oslo e imerso em tendências suicidas. “Estava sem dinheiro, sem dias, sem futuro. Agora, só faltava ver se tinha a coragem – ou a cobardia – de acabar com tudo. Tinha uma velha pistola Beretta debaixo do colchão no quarto da pensão. Comprara-a por vinte e cinco dólares a um sem-abrigo que vivia numa das tendas azuis em Skid Row. Tinha três balas”.
Em Oslo, a polícia investiga o desaparecimento de duas jovens raparigas, que em comum têm apenas o facto de terem estado na mesma festa, organizada por um famoso empresário. Quando uma delas aparece morta, a polícia descobre uma assinatura do assassino, onde espreita a promessa de voltar a atacar de novo.
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Quanto a Harry, acaba por ceder ao coração mole que por vezes nele desperta, regressando a Oslo no papel de detective privado. A mulher que lhe salvou a vida encontra-se em perigo, e a sua salvação é bem capaz de estar ligada, por fios invisíveis, a este psicopata engenhoso, que parece decidido a vencer Harry no jogo do gato e do rato.
A investigação paralela de Hole acabará por reuni-lo, de forma não oficial, com antigos e resssentidos colegas, para além de novas caras para quem Harry Hole se transformou, há muito, num mito urbano. Tudo para apanhar mais um assassino em série, que parecem estar sempre por perto deste detective que poderia ter sido companheiro de copos de Philip Marlowe.
Não é fácil manter uma série viva depois de 13 volumes, mas Jo Nesbo continua a sacar ases da cartola, num livro que deixa a porta escancarada para um 14º volume. Parece que a Beretta vai ter de esperar, pelo menos por mais uns volumes.
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