É bem capaz de ser a surpresa do ano no universo mangá, um pouco como se Elena Ferrante tivesse escrito um livro de ficção científica ou Jonathan Franzen uma trilogia de fantasia romântica com gnomos assassinos quebra-corações. Tatsuki Fujimoto, conhecido como o inventor desse homem da Black and Decker conhecido como Chainsaw Man, sacou da cartola um one shot chamado “Look Back” (Devir, 2024), uma comovente história sobre o crescimento com muitas pontas soltas e surpresas pelo meio.
No centro da trama estão duas aspirantes a ilustradoras profissionais de mangá: Fujino, confiante no seu talento e a quem todos auguram um futuro brilhante; e Kyomoto, uma aluna tão introvertida que estuda à distância. Ambas desenham para o jornal local e, de repente, Fujino sente-se ultrapassada por Kyomoto, passando a estudar livros de anatomia e frequentando aulas extra, tudo para voltar a embarcar no sonho de se tornar desenhadora. Um sonho que começa, desde logo, a ser desfeito em casa: “Não achas que estás a ficar um bocado grande demais para ainda andares metida em desenhos?”.
Quando se vê obrigada a entregar o diploma a Kyomoto, Fujino será brindada com uma surpreendente revelação, algo que transformará por completo a sua vida. A partir daqui, Tatsuki Fujimoto embarca numa jornada épica onde brinca com a linha temporal, num livro que parece ter muita autobiografia pelo meio – como, por exemplo, o facto de o seu nome se encontrar distribuído pelas duas protagonistas (Fujino – Kyomoto).
Pelo caminho escondem-se diversos enigmas e surpresas, como lombadas de livros com o mesmo arranjo gráfico de Chainsaw Man ou, surpresa das supresas, percebermos que foram os Oasis os culpados por este belo título – e isto muito antes das notícias da sua ressurreição. O melhor mesmo é atirarem-se a este “Look Back”, um livro mangá fora da caixa que convida a uma série de releituras. Quem diria que Tatsuki Fujimoto seria capaz de nos surpreender desta forma?
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