“Linhagem de Ouro” (Bertrand, 2019), de Natasha Solomons, é um romance histórico que se centra na saga de uma família judia de banqueiros (a família Goldbaum), na então Áustria imperial que, nos anos que antecedem a Primeira Grande Guerra, influencia toda a Europa. Estamos na época de Francisco José, o Imperador da Áustria e Rei da Hungria, Croácia e Boémia.
Porque eram banqueiros (”Os homens Goldbaum eram banqueiros e as mulheres Goldbaum casavam com homens Goldbaum e produziam crianças Goldbaum”) e personalidades de confiança junto de Governos e Imperadores, poucas coisas de relevo político-social acontecem sem o seu conhecimento e assentimento. A família Goldbaum colecciona, a par de quadros de Rembrandt e ovos Fabergé, as obrigações financeiras dos imperadores e de primeiros-ministros, com todas as consequências que dai advêm em termos de poder e de influência.
Greta Goldbaum (a personagem principal da trama) é uma jovem rebelde, filha dos barões Goldbaum (ramo austríaco), mas que não tem “uma palavra a dizer” em relação a quem será o seu futuro marido. O que importa à família é que a união matrimonial de Greta com o seu primo direito em segundo grau, Albert, venha fortalecer o lado austríaco e britânico da dinastia, cuja força e poder emanam da enorme riqueza acumulada – e, sobretudo, mantida. Uma união considerada pelos pais de Greta como absolutamente adequada e estratégica.
Para Greta, apesar de continuar a ser provocadora, o casamento e o facto de ter de ir viver para Inglaterra é, no entanto, algo de “muito desagradável mas que tinha de ser suportado”. Apesar disso, não prescinde de um último reduto de liberdade em casa dos sogros: o seu “jardim de desafio”, onde planta o que quer e como quer sem submissão às regras e directrizes da família. Um jardim que é a metáfora da sua absoluta necessidade de liberdade.
Paralelamente à história de Greta em Viena e em Inglaterra, a autora conta a história de Karl, um menino órfão pobre de Viena que se alimenta dos restos da cozinha da família e que, sendo judeu, é colocado num lar judaico para meninos pobres por instâncias dos Goldbaum, que sempre asseguravam a protecção de um judeu. Um jovem que, durante a Grande Guerra, vai ser o protagonista de uma linda história de amizade profunda com um Goldbaum, desta feita soldado da frente de combate.
Com a Grande Guerra os Goldbaum sofrem importantes tumultos familiares e, pela primeira vez, a família desune-se. A história do livro está bem ancorada em momentos históricos muito negros e marcantes (entre outros, o naufrágio do Titanic em 1912; o assassinato, em 1914 e em Sarajevo, do príncipe herdeiro Arquiduque Francisco Fernando da Áustria; a luta das sufragistas em 1912) e, mesmo assim, traz ao leitor momentos redentores do significado da amizade e do amor.
Sem Comentários