Em “Lágrimas Como Navalhas” (Kathartika, 2024), S.A. Cosby apresenta-nos uma narrativa intensa e comovente, que explora os limites da dor, do arrependimento e da redenção.
A história centra-se em dois homens – Ike Randolph e Buddy Lee Jenkins – que contam com tons de pele, vidas e modos de pensar distintos. A uni-los está um passado ligado à criminalidade e a trágica perda dos seus filhos, Isiah e Derek, brutalmente assassinados. Perante a falta de respostas por parte das autoridades policiais, e apesar de nunca terem aceitado a orientação sexual dos filhos e a sua junção como casal, os dois homens decidem juntar esforços e fazer justiça pelas próprias mãos, num longo e atribulado caminho trilhado em busca de uma expiação do erro de nunca terem conseguido aceitar a verdadeira natureza dos filhos.
À medida que investigam os homicídios, Ike e Buddy Lee começam a perceber que, ao contrário do que inicialmente se pensava, pode não ter sido o ódio pela orientação dos filhos que levou às suas mortes. Relacionado com os brutais assassínios de Derek e Isiah está o desaparecimento da jovem Tangerine, naquela que parece ser a única pista a que se podem agarrar, levando a dupla improvável a mergulhar num submundo perigoso e repleto de segredos.

Ao longo da sua jornada, as duas personagens principais – que acabam por se ir unindo cada vez mais, apesar de não poderem ser mais diferentes – são confrontadas com os seus preconceitos, falhas parentais e medos mais profundos. Além disso, são ainda obrigados a enfrentar as consequências das suas acções de outros tempos e a revisitar velhos “amigos” do seu passado, inclusive da altura em que as suas vidas passavam pelo crime.
A escrita é directa, procurando capturar a essência das emoções sem grandes rodeios, enquanto a tensão, assim como o perigo, vão crescendo, à medida que a dupla se aproxima da verdade. A história, embora clara, “rectilínea” e com uma dose generosa de acção, não pretende ser apenas sobre vingança, mas também uma reflexão relacionada com as complexidades das relações humanas. A violência não deixa de ser, no entanto, um elemento preponderante e muito presente na narrativa, funcionando também como um reflexo do passado e da realidade dos protagonistas.
Ao longo das mais de 320 páginas da sua obra, S.A. Cosby vai tecendo e adensando uma trama que tenta combinar thriller e suspense com análise social, abordando temas como racismo ou homofobia. Relacionada com luto e amor incondicional – ainda que mal compreendido ou demonstrado -, a obra deixa uma sensação agridoce: algumas feridas nunca saram, mas pode sempre haver espaço para a mudança e a redenção.
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