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“Laços” | Domenico Starnone

Por Julia Martins · Em 28/09/2018

Em “Laços” (Alfaguara, 2018), de Domenico Starnone, entramos na vida de Aldo e Vanda e questionamo-nos sobre o casamento e o amor. Tratar-se-á de um jogo? E, se sim, será perigoso ou sublime? Que laços nos unem e nos separam, e quão fortes serão os fios de um casamento?

“Laços” narra-nos, de forma concisa, a rotina, as preocupações e os dilemas de uma família, da fragilidade de doze anos de vida comum, de um amor que se pensava ser eterno. A narrativa constrói-se a três vozes, interligadas, mas que poderiam ser lidas separadamente. Quanto ao leitor, será o ouvinte privilegiado de cada uma destas vozes.

No preâmbulo conhecemos os sentimentos de Vanda, mulher abandonada e traída, atormentada pela ausência do marido: “Onde estás? A morada que deixaste é de Roma, o número de telefone também, mas escrevo-te e não respondes, telefono e toca sem parar. O que tenho de fazer para te encontrar? Telefonar a um amigo teu, aparecer na universidade? Tenho de me pôr aos gritos diante dos teus colegas e dos alunos, tenho de revelar a toda a gente que és um irresponsável? Tenho a luz e o gás por pagar. Tenho a renda. E os dois miúdos. Volta depressa”. Desespero ou a crença no amor e na sedução permanente? Ou será, antes, a dificuldade de assumir que o amor chegou ao fim, e que é agora necessário apanhar os estilhaços?

O livro não se concentra, porém, apenas na mulher abandonada. Na segunda parte, a mais longa, ficamos a conhecer Aldo e os seus pensamentos íntimos sobre a separação, a traição, os filhos e o casamento: ”Estar casado, ter família própria numa idade novíssima, tornara-se um sinal não de autonomia, mas de atraso. Com menos de trinta anos, sentia-me velho, e parte – à minha revelia – de um mundo, de um estilo que, no ambiente político e cultural a que aderia, era considerado iminentemente acabado. Pelo que, embora tivesse uma relação forte com a minha mulher e as duas crianças, depressa me deixei fascinar por modos de vida que programaticamente suprimiam todos os vínculos tradicionais”.

Laços, Deus Me Livro, Alfaguara, Domenico StarnoneNa parte final ouvimos as palavras de Anna, a filha do casal. Pensa na família, na mãe, no pai e no irmão, em como os infortúnios e os rancores dos pais, os momentos partilhados com o irmão, foram determinantes para que a sua vida seja como é. Afinal, “o que é que podemos fazer, não se pode escapar aos cromossomas, não é culpa minha nem é culpa tua, tudo se herda, até o modo de coçar a cabeça”.

A casa. Presente ao longo do romance, permite-nos entrar na intimidade e identidade de cada personagem, conhecer a relação que cada um deles tem com ela: com uma divisão em particular ou, simplesmente, com um objecto – cada um esconde uma história que é também a nossa. Aldo, por exemplo, revê o passado em cada objecto acumulado ao longo dos anos: “O pesado cubo de metal que comprara em Praga décadas antes ainda estava no seu lugar, em cima da estante do meu escritório. Tratava-se do mesmo objecto que tanto impressionara a rapariga do solenóide, um objecto lacado de azul, vinte centímetros de base, vinte de altura. Nunca tinha sido do agrado da Vanda, já eu tinha-lhe apego”.

Relacionamentos, separações e reconciliações, família e amor são os temas centrais neste romance, mas não só. Fala-nos, também, da liberdade individual, de se ser capaz de “viver à vontade e sem subterfúgios”. Afinal, quão livre o amor nos permite ser, “qual a força dos laços que formam entre nós e os outros?”.

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“Laços” é o décimo-terceiro romance de Domenico Starnone e o primeiro publicado em Portugal. Distinguido como melhor livro do ano por vários jornais internacionais como The New York Times, Kirkus Reviews, TheSunday Times, venceu o Prémio Bridge de melhor romance. Domenico Starnone nasceu em Saviano, perto de Nápoles, em 1943. Trabalhou para vários jornais e revistas e para suplementos culturais como, por exemplo, L’Unità, Il Manifesto, Tango e Cuore. Diz encontrar inspiração em episódios de sua vida como professor.

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Julia Martins

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