“Koiza” (Porto Editora, 2019) é já o décimo sexto livro de David Walliams a chegar às prateleiras das livrarias nacionais com o selo da Porto Editora, e mantém o ADN de muitos dos seus predecessores. Aqui, a peste dá pelo nome de Magda Manso, uma criança que tinha tudo para ser feliz mas que, ainda assim, queria sempre algo mais – um pouco como a Veruca Salt de “Charlie e a Fábrica de Chocolate”, de Roald Dahl.
Os seus pais, como o apelido o dá a entender, estavam para além do dócil – e do Manso -, permitindo que Magda se tornasse aos poucos num ser detestável. O Sr. Maurício Manso, bibliotecário, era dócil e tímido, gostava de usar meias com sandálias mas tinha vergonha de comer um pêssego em público. Já a Sra. Marinela Manso, também ela bibliotecária, usava óculos pendurados ao pescoço por uma corrente, e tinha presente como momento mais embaraçoso da vida aquele espirro dado num autocarro.
A primeira palavra de Magda (dita logo no dia em que nasceu) foi “mais” e, ao longo da sua ainda curta vida, tinha acumulado tantas coisas que tinha pelo menos uma para cada letra do alfabeto – mas nem sequer um livro, que considerava uma chatice. As exigências de Magda foram subindo de tom, até que exigiu aos pais uma Koisa, com K e tudo, apesar de não saber nem por sombras do que se tratava.
Desconhecendo se a troca de letra havia sido ou não intencional, os pais de Magda interrogam-se sobre se Koisa será um vegetal de forma esquisita, um jogo de tabuleiro muito chato ou um planeta distante, até que se lembram de descer às catacumbas da biblioteca, lugar onde ninguém entra há centenas de anos. Um lugar onde há livros que deixaram de ser editados, pérolas como “Hinos para fazer os ouvidos sangrar”, “Odes às urtigas” ou “Uma breve história das meias”. Mas, também, a “Monstropédia”, onde se encontra, entre muita bicheza, a tal Koiza, “a mais rara das criaturas“, que só pode ser encontrada “na selva mais escura, mais profunda e mais selvagem“. E que tem um enorme olho ao centro e um buraco de cada lado – um é a boca, outro o rabiosque. Já adivinharam o resto: o Sr. Manso lá terá de vestir a pele e o chapéu de Indiana Jones e partir rumo a uma desagradável aventura.
David Walliams volta a entrar na dinâmica familiar, mostrando que dois pais super simpáticos, boas pessoas e amantes de boa literatura podem ajudar a criar um pequeno monstro, que certamente fará bullying na escola, não parará nas passadeiras e achará sempre que tem prioridade nas filas. Muita tolice e fantasia a rodos em mais um capítulo da bibliografia de David Walliams, que não irá desiludir os seus pequenos fãs.
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