Imaginem um Jogos da Fome onde, mais do que uma distopia sobre a luta de classes, descobríamos uma sátira ao sistema de justiça penal americano, atravessada pela ideia de preconceito e mergulhada em racismo. São mais ou menos estes os ingredientes de “Jogos da Prisão” (Topseller, 2025), romance de Nana Kwame Adjei-Brenyah que foi finalista do National Book Award em 2023.
Adjei-Brenyah transforma o mundo das prisões numa arena romana, apresentando-nos os Jogos da Prisão: um controverso programa cujo objectivo é o de gerar receitas milionárias no seio da indústria prisional privada. Os prisioneiros que aceitarem a entrada neste programa – normalmente em fuga à sentença da pena de morte -, lutam com outros prisioneiros em combates travados até à morte, buscando a recompensa suprema: a liberdade. Para isso, no entanto, terão de vencer um número (muito) redondo de combates, num sistema que parece estar viciado. Cada um deles faz parte de um Elo da mesma corrente, não podendo combater uns contra os outros, o que significa que poderão jogar ou tornar-se uma equipa – algo quase nunca cumprido.

Thurwar e Staxxx são Elos da mesma corrente – e amantes -, encontrando-se em fases transitórias de popularidade. Thrwar está a poucos combates de ser libertada, e vai gastando os muitos créditos que foi acumulando com os seus companheiros, ajudando-os a superar uma vida condenada a ser curta. Os donos do Programa Cape têm, porém, uma cartada final, capaz de aumentar ainda mais os níveis de audiência, e dos muitos subscritores de um programa pago que permite aceder a conteúdos exclusivos – ao estilo de um Big Brother Prsisional.
Fora da prisão, manifestantes lutam pelo cancelamento dos jogos, enfrentando não apenas as forças da lei como, sobretudo, a fúria de uma sociedade que não olha a meios para cumprir a sua ideia de diversão, mesmo que à custa da liberdade e dignidade alheias.
Para além de Thurwar e Staxxx, outros personagens ajudam a compor esta sinfonia que expõe as desigualdades e os preconceitos encerrados para lá dos muros das prisões (e também fora deles), e que pelo caminho vai disparando em várias e certeiras direcções. Como quando, a dado momento, define a violência como “o mais básico dos vírus humanos”. Cativante, emocional e arrojado, “Jogos da Prisão” é um promissor livro de estreia de Nana Kwame Adjei-Brenyah.
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