“A minha irmã é um buraco negro. A minha irmã é um tornado. A minha irmã é o fim da linha a minha irmã é a porta trancada a minha irmã é um tiro no escuro”. Bem-vindos a “Irmãs” (Euforia, 2024), romance assinado pela britânica Daisy Johnson, que nos faz mergulhar numa relação intensa entre duas irmãs, separadas por dez meses de diferença mas que poderiam bem ser gémeas.
A narradora é July, irmã da dominadora September, presa numa relação auto-sustentável onde não há espaço para qualquer desvio, e sobre a qual o leitor vai vislumbrando alguns laivos de loucura: “Este é o ano em que somos assombradas. O quê? Este é o ano, como qualquer outro, em que não temos amigos, necessárias apenas uma à outra”.
Depois de um grave incidente na escola, as adolescentes mudam-se com a mãe para uma abandonada casa de família perto da costa, que poderia bem ser o cenário de um romance de Stephen King. “As paredes brancas da casa estão riscadas com marcas de mãos lamacentas e, enrugadas, cedem ao próprio peso. O andar de cima afunda-se no de baixo como uma mão a cerrar-se num punho. Um andaime encostado à parede, telhas partidas estilhaçadas pela estrada. (…) Nunca tinha vivido numa casa que se parecesse como esta: amargurada, deformada, suja – por todo o lado”.
É a partir desta morada que tem lugar uma história de assombro e confronto com a memória, de superação e perda, protagonizada por uma adolescente à procura do seu lugar no mundo, procurando cortar as amarras que são como uma âncora enferrujada presa aos seus pés. Um thriller de embalo gótico que reserva um final bem embrulhado.
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