Entre 2013 e 2015, a editora Objectiva publicou uma colecção com cinco volumes, “História Contemporânea de Portugal: 1808-2010”, nascida de um projecto idealizado pela Fundação Mapfre. O projecto foi retomado em 2019, sob a organização de António Costa Pinto e Nuno Gonçalo Monteiro, tendo originado um livro exclusivamente dedicado à economia, com contributos de um grupo de especialistas na área, intitulado “História Económica Contemporânea: Portugal 1808-2000” (Objectiva e Fundação Mapfre, 2021).
Jorge M. Pedreira, professor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, assina dois capítulos, abrangendo os períodos de 1808-1834 e 1834-1890. Após uma época em que a prosperidade mercantil era comandada pelo comércio ultramarino, “a principal alteração que afectou a economia portuguesa durante as primeiras décadas do século XIX foi, sem dúvida, o colapso do império”, tendo a perda do Brasil originado uma crise profunda, mas o autor aborda também, entre outros temas, as consequências económicas das invasões francesas, as iniciativas incipientes de industrialização – numa perspectiva comparativa com os países europeus que se industrializaram com sucesso – e as limitações de um sistema que “funcionava com base no endividamento permanente do Estado”, analisando criticamente a historiografia e desmontando alguns mitos.
O intervalo temporal que se segue é 1890-1930, marcado pela Primeira Guerra Mundial e por diversas crises. Álvaro Ferreira da Silva, sub-director da Nova School of Business and Economics – onde é professor associado de História Económica e História Empresarial –, descreve a actividade industrial que então se desenvolveu, embora sem as transformações estruturais que é usual associar-lhe, por exemplo, ao nível do emprego. Este continuou a ser marcadamente rural, tendo até aumentado mais nos serviços do que na indústria. A associação entre o desequilíbrio financeiro e a instabilidade dos regimes políticos é outro aspecto digno de relevo deste capítulo.
O período de 1930-1960, marcado pelas políticas do Estado Novo, é tratado por José Luís Cardoso, investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, que procura complementar a história económica dos factos com uma história qualitativa das ideias. Destaca-se aqui a explicação da forma como “a fraca competitividade da economia portuguesa era compensada por medidas de protecionismo agrícola, industrial e comercial”, as quais deixaram “marcas indeléveis na formação de uma cultura económica empresarial que se habituou a ambientes de concorrência protegida e a privilégios especiais concedidos pelo Estado”.
Luciano Amaral, professor auxiliar na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, ocupa-se dos anos entre 1960 e 2000, que “correspondem ao período de mais rápido crescimento da economia portuguesa em toda a sua história”. Porém, como aponta o autor, a convergência quase total com o padrão europeu, em termos políticos e institucionais, não foi acompanhada por uma convergência económica equiparável, persistindo até hoje problemas difíceis de ultrapassar.
Assim termina a descrição das transformações económicas vividas por Portugal ao longo de quase duzentos anos de história. Os textos, embora nem sempre sejam de leitura fácil para um leigo, procuram ser sintéticos e didáticos, tornando esta obra deveras útil para quem deseja compreender o Portugal de hoje.
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