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“Granta em Língua Portuguesa 1: Fronteiras” | V.A.

Por Pedro Miguel Silva · Em 11/06/2019

Foi já há um ano que a Granta, a revista literária com o selo da Tinta da China, decidiu cruzar o Atlântico de peito cheio, passando a ostentar um mais pomposo e alargado título de “Granta em Língua Portuguesa”. Tendo em conta este encontro e cruzamento, o título do primeiro número não poderia ter sido mais certeiro: “Fronteiras”.

Fronteiras que, aqui, vão muito para lá da dimensão geográfica, abarcando também aquilo que nos separa enquanto seres da mesma espécie. Segundo Carlos Vaz Marques, o director da publicação até ao segundo número, esta nova aventura visa mostrar o “equilíbrio poético em que aquilo que nos une por vezes nos separa, e aquilo que nos separa também nos une”, percorrendo “uma distância e um desejo de aproximação”.

Em termos de conteúdos, o formato mantém-se o mesmo da sua par britânica: publicação de textos entre a ficção, o ensaio, a reportagem ou outros géneros, incluindo ensaios fotográficos – Daniel Blaufuks tem agora o papel de Director de Imagem -, textos de autores contemporâneos publicados, inéditos de autores que já morreram e textos que pretendem revelar autores ainda não publicados – mas a quem se preconiza um futuro literário.

Fundada em 1889 por estudantes da Universidade de Cambridge como The Granta, um periódico de política, humor e iniciativa literária estudantil, baptizado com o nome do rio que banha a cidade, a revista publicou, entre outros, os primeiros trabalhos de Sylvia Plath e de Ted Hughes. Renasceu em 1979 como Granta, divulgando a obra de muitos escritores que viriam a ser internacionalmente reconhecidos.

Granta, Granta em Língua Portuguesa, Fronteiras, Adriana Lisboa, José Eduardo Agualusa, Patrick Marnham, Keane Shum, Julián Fuks, Teresa Veiga, Emma Cline, Han Kang, Pomerantsev, Valério Romão, Francisco Bosco, Rita Lino, Marco Chaves, Deus Me Livro, Tinta da China“Telefones tocando às cinco horas da manhã são o maior temor de quem vive distante”, escreve Adriana Lisboa em Dia de Iemanjá, um conto sobre o que muda em quem fica e em quem vai, e aquilo que a memória consegue guardar e chorar antes do fim; José Eduardo Agualusa apresenta a história de Vissolela, alguém que jamais ergue a voz e que foi presa por cinco vezes: “a primeira por prostituição, a segunda por furto, a terceira por agressão a um polícia, a quarta por atentado ao pudor, a quinta por tentativa de golpe de estado”; Patrick Marnham cruza A Fronteira entre a Guatemala e El Salvador, num retrato constante e imutável do medo; Keane Shum explica por que razão O tamarindo é sempre amargo, num retrato devastador – com o selo do jornalismo de investigação – dos Rohingya, um grupo muçulmano que vive há várias gerações na região ocidental de Myanmar – e que, com cerca de um milhão de habitantes, constitui o maior grupo apátrida do mundo. Um mergulho na desumanidade monstruosa para com os refugiados e uma pertinente reflexão sobre o que é ser um cidadão do mundo – ou de lado nenhum, condenado a ser descontinuado; “Todo homem é a ruína de um homem”, avança Julián Fuks em A ocupação, que aqui escreve sobre os homens que acabam por nunca o ser por, a certa altura do caminho, se terem tornado ruínas; em Le cose belle, Teresa Veiga conduz-nos pela mão até uma clínica onde uma vida pode começar e terminar, e que, a certa altura e em nome da expansão, aplica o “Forever Young” Alphavilliano a uma “geriatria aplicada ao amor”, melhorando numa espécie de garagem de luxo “as performances de cada um sem olhar à sua esperança de vida”; na Los Angeles de Emma Cline, a beleza surge como um recurso natural e de uso obrigatório, transportando-nos para uma loja e para duas gerações que atravessam a ténue fronteira entre o sexual e o pornográfico, a marotice e a indecência, a inocência e o abuso sexual; Han Kang é autora de O fruto da minha mulher, talvez o mais intrigante dos contos desta edição, onde se cruza a fronteira da (in)felicidade para, com o recurso à narrativa fantástica nipónica, se assistir à falência do corpo, à perda de intimidade, à morte dos sonhos, à cedência a uma rotina inconsciente e castradora e a um inesperado desbrochar; a guerra da (des)informação e a destruição do sentido de escala está no centro de O país da propaganda, onde Peter Pomerantsev esbate a fronteira entre a propaganda e o jornalismo; Valério Romão impõe Os limites do humor, conto sobre a “estranha felicidade na consumação da tragédia”, e que mostra toda a impotência humana perante a doença, o desconhecido e o contágio; a terminar temos Francisco Bosco com Meu gozo, onde a melancolia, a perda e as fronteiras do eu são desenhadas com marcas que tanto vão beber à poesia como à filosofia.

Há ainda dois ensaios fotográficos – Rita Lino entre a nudez libertadora e o sangue, Marco Chaves mostrando a terceira margem de um Rio de Janeiro cheio de padrões irregulares -, numa edição onde coube a João Fonte Santa a criação de uma ilustração para cada uma das narrativas.

Os números 2 e 3 da Granta em Língua Portuguesa estão já disponíveis.
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Pedro Miguel Silva

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