“Um olhar muito particular sobre a humanidade“. As palavras são de Jorge da Costa na introdução a “Metamorfoses da Humanidade” (Guerra e Paz e Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, 2019), referindo-se ao conjunto da obra da pintora Graça Morais, alguém que através da arte esteve sempre junto ao abismo confrontando a sua – e a nossa – inquietação e o seu – e o nosso – medo.
Com a curadoria de Jorge da Costa e Emília Ferreira, “Metamorfoses da Humanidade” é um catálogo bilingue da exposição que esteve patente no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, no Museu Nacional de Arte Contemporânea e no Museu Nacional de Soares dos Reis, entre Junho de 2018 e Setembro de 2019.
Trata-se de um conjunto de mais de oito dezenas de desenhos e pinturas sobre papel, todos de 2018, onde assistimos do lado de cá da tela a uma reflexão silenciosa sobre a natureza humana, em temas tão densos e pouco felizes como a guerra, a perda absoluta, a fome, a morte e o sofrimento. A esperança, essa, surge apenas como uma réstia, uma luz ao fundo de um túnel que parece não ter fim à vista.
O traço vigoroso de Graça Morais faz-de da espessura de várias camadas de grafite e carvão, às quais se juntam outras mais aquosas e subtis, numa harmonia surpreendente entre o fim do mundo e a aceitação consciente da sua presença. Aqui reina a metamorfose, feita de animais e mutantes, de humanos em busca da transformação, em desenhos que obrigam a olhar de perto e que reflectem, sobretudo, o medo. São quadros que se olham como se lêem poemas, e onde o exercício de silêncio convida o espectador a encontrar em si a compaixão perante figuras que, aqui, foram destituídas de género, reduzidas à sua essência. Um catálogo de uma pintora fascinante, que usa os pincéis para dissecar a natureza humana.
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