“Em 1 de Agosto de 1941, eu era um jovem de vinte e um anos, estudava química na Universidade de Colúmbia e já escrevia ficção científica profissionalmente há três anos. Tinha pressa de me encontrar com John Campbell, director da Astounding, a quem nessa altura já vendera cinco histórias. Estava ansioso por lhe contar uma nova ideia que tinha para uma história de ficção científica. Ia escrever um romance histórico do futuro; contar a história de ficção científica”. Essa história era Fundação, e o seu autor Isaac Asimov. Uma série que se tornou numa das maiores viagens através do espaço, colocando pelo caminho algumas das questões essenciais à vida humana.
Depois de “Fundação”, “Fundação e Império” e “Segunda Fundação” – Trilogia da Fundação como pensada pelo autor -, a Saída de Emergência publicou “Limites da Fundação”, livro que Asimov escreveu depois de fãs e editora praticamente o terem encostado à parede – claro que o adiantamento dez vezes maior que o habitual nesses dias ajudou ao desbloqueio artístico. Escrito 32 anos depois da trilogia original, tornou-se um dos livros mais vendidos do New York Times, permanecendo nessa lista durante vinte e cinco semanas. Asimov aproveitou o hype e escreveu de seguida “Fundação e Terra” (Saída de Emergência, 2023), que retoma a história no preciso momento em que “Limites da Fundação” havia terminado.
Apesar de referir no prefácio que poderá ser lido “por si próprio”, é aconselhável a leitura prévia da trilogia, que por aqui teve direito ao lançamento de fogo-de-artifício. Festejos que se estendem a este “Fundação e Terra”, que resolve algumas das inquietações que o leitor terá tentado aplacar sem grande sucesso depois do anterior volume.
Entre o 1º e o 2º Império, Golan Trevize decidiu inventar – e escolher – uma terceira via: Gaia. “Um superorganismo; um planeta inteiro com uma mente e uma personalidade em comum, de tal modo que tem de se usar o pronome inventado «Eu/nós/Gaia» para exprimir o inexprimível. […] E acabará por se tornar Galáxia, um super-superorganismo abrangendo todo o aglomerado fervilhante da Via Láctea”.
Apesar de sentir que tomou a decisão certa, Trevize precisa ainda de procurar a resposta no lugar onde a Humanidade terá tido as suas origens: o planeta Terra. Terra que, por esta altura, é como um conto de fadas científico, não havendo ninguém que conheça a sua localização ou, mais misterioso ainda, a razão de não existirem quaisquer registos deste planeta considerado “perdido”.
Trevize, que “em lado nenhum se sentia em casa, um órfão em toda a parte”, luta pela individualidade, a alternativa ou a possibilidade de revolta, que crê terem ficado de fora segundo o pensamento de Gaia. Com esta jornada a um lugar que aparentemente não existe, Trevize procura “uma razão melhor para a minha decisão transforme Gaia num modelo para o futuro da humanidade do que dizer apenas que ela é a versão planetária de uma casa confortável”.
Nesta sua viagem, será obrigado a partilhar a sua supernave com Pelorat, que até agora tem sido o seu co-piloto, e também com Fliz, uma jovem de vinte e poucos anos que se perdeu de amores por Pelorat – e que é também parte dessa consciência colectiva de Gaia.
Tendo o Plano Seldon como lembrança longínqua, esta é uma viagem com paragens em vários planetas e apeadeiros, onde há já um alerta vermelho ambiental, se projecta a imagem de um planeta abandonado, se mostra que toda a história é lenda e, fazendo de Asimov um visionário, se discutem questões de género e pronomes de tratamento. E esta, hein?
O melhor de tudo é que a Saída de Emergência irá publicar as duas prequelas escritas por Asimov para a série, estando “Prelúdio à Fundação” já disponível nas livrarias.
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