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Folio: O resistente Julián Fuks

Por Pedro Miguel Silva · Em 02/11/2017

Era para ter sido uma conversa entre dois Prémios Saramago: Bruno Vieira Amaral, vencedor em 2015 com o livro “As primeiras coisas”, e Julián Fuks, que dias antes havia recebido o prémio pelo livro “A Resistência“, publicado em Portugal pela Companhia das Letras Portugal – uma chancela do grupo Penguin Random House Portugal.

No lugar de Bruno Vieira Amaral esteve Tatiana Salem Levy que, após Pilar del Rio ter tecido rasgados elogios a Fuks – “Acredito que nos vai dar muitas felicidades no futuro” -, confessou não estar particularmente à vontade no meio jornalístico: “É a primeira vez que entrevisto alguém“. A verdade é que a escritora brasileira se preparou à séria, realizando uma espécie de entrevista literária que nos mostrou, para lá de “A Resistência”, todo o universo criativo de Fuks, tocando nos livros do autor que estão ainda por publicar em Portugal. Ela que, segundo Fuks, foi quem o obrigou a concorrer ao Prémio Saramago.

JUlián Fuks, Deus Me Livro, Folio,

“É nas obsessões que reside o projecto literário em si“, afirmou Fuks, falando de cada livro como de uma batalha, na qual escreve sempre devagar e aos solavancos. Sobre “Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu (7 Letras)”, “um livro de contos que vou deixando esquecer“, disse ter já algumas das suas referências, tal como o uso da metalinguagem, tratando de obsessões próprias e de um estilo que quis deixar para trás no livro seguinte, “Histórias de literatura e cegueira”: “Fui atrás de fantasmas e obsessões dos outros“, num livro que acompanha a relação de três escritores que ficaram cegos, lidando de formas diversas com a escuridão que sobre eles se abateu: Jorge Luis Borges, João Cabral e James Joyce. “Ainda não via em mim um personagem“, afirmou Fuks, que em “Procura do romance” abordou o tema da morte do romance, na altura um tema que fazia parte dos seus estudos.

“Sinto que me insiro nessa nova ordem de escritores que se observam a si mesmos“, ou, como reforçou Tatiana, dos “escritores que pensam a própria literatura“. “Era na biblioteca que procurava os fantasmas que queria conhecer, confrontar“, partilhou Fuks, introduzindo a temática das palavras e da forma como estas surgem em “A Resistência”, o livro mais pessoal saído da pena do escritor brasileiro.

“Paradoxalmente, as palavras aproximam-nos das coisas e também nos excluem delas. Em “A Resistência”, quanto mais falava do meu irmão, mais me afastava dele“. Foi neste romance que se começou a preocupar com questões ligadas à sonoridade das palavras, tentando encontrar e jogar com as suas ressonâncias.

JUlián Fuks, Deus Me Livro, Folio,

Sobre a leitura em voz alta, Fuks falou desta como uma espécie de oráculo para a escrita vindoura: “Leio em voz alta constantemente. É também uma forma de começar a rejeitar o livro anterior e a partir dessa rejeição partir para outro livro“.

“A Resistência” foi, para além da mudança de se colocar no lugar do outro – e de se transformar a si próprio em personagem -, uma mudança na própria forma de escrita: “Na “Procura do romance” tentei evitar ao máximo a repetição de palavras, o que tornou a escrita cansativa, exausta. Em “A Resistência” foi algo completamente diferente, houve repetição programada, uma poética de ressonâncias ao longo de toda a obra“.

Outro dos temas incontornáveis foi a política que, em “A Resistência”, entrou a partir de uma questão pessoal. Fuks abordou também a forma distinta como Argentina e Brasil encaram e arrumaram o tema da ditadura: “No contexto argentino há uma saturação no assunto da ditadura. No Brasil há uma recusa em tratar do que se passou no país nos anos 60. É preciso falar disso, procurar uma reparação histórica. Falar dos autoritarismos do passado não deixa de ser falar dos autoritarismos do presente“.

“A Resistência” foi, também, o território onde Fuks abriu a porta à emoção: “Deixei de seguir um conselho comum que é o de o leitor não se emocionar antes dos leitores“. Um livro que acabou por transformar tudo, inclusive as próprias relações familiares, numa exploração da emoção a partir da consciência. “O meu irmão enquanto me pedia para escrever o livro chorava“, confidenciou Fuks, dizendo que este tem tido uma relação muito positiva com o livro apesar de ainda não o ter lido. Cabe agora ao leitor deixar-se emocionar por esta Resistência.

 

Entrevista a Julián Fuks

A ResistênciaFOLIOFolio 2017Julián Fuks

Pedro Miguel Silva

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