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Adriana Correia, Editora Flop, Luiza Nilo Nunes, Tlön - Revista Literária, Editora Anjo Terrível, Pedro Piedade Marques, Editora Montag, Sara F. Costa, Deus Me Livro, Folio, Folio 2019
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Folio 2019: Há literatura da boa no Portugal dos Pequeninos

Por Pedro Miguel Silva · Em 15/10/2019

Foi diante de uma plateia reduzida mas atenta que Adriana Correia Oliveira (Editora Flop), Luiza Nilo Nunes (Tlön – Revista Literária e Editora Anjo Terrível) e Pedro Piedade Marques (Editora Montag) falaram sobre o contributo das editoras independentes no panorama editorial português, numa mesa redonda que foi montada no Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos.

À pergunta “O que define um editor independente?“, lançada na abertura pela moderadora Sara F. Costa, Pedro Marques decide tornar a pergunta mais perto do contexto económico: “O que define um editor independente pobre ou com recursos limitados?“. Isto porque, se olharmos para editoras como a Presença, a Tinta da China ou a Saída de Emergência – exemplos por si apontados -, não estarão propriamente a carpir mágoas.

Relativamente a editoras como o trio desta mesa redonda, fala  de “projectos com um catálogo curto que conseguem publicar livros muito bem pensados“. No caso específico da Montag, uma editora de nicho que se dedica unicamente a publicar livros que versam sobre o processo editorial, uma travessia que começou com a publicação de “Editor Contra: Fernando Ribeiro de Mello e a Afrodite”, livro sobre o editor “maldito” por excelência na última década do Estado Novo, que combateu a perseguição policial e a censura com uma postura que lhe valeu proibições e condenações. Livros que, daqui a dez ou quinze anos, “tenham valor“.

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Verdadeiro conhecedor do processo editorial que vai da impressão à distribuição e às vendas, apontou vários momentos que acabaram por mudar a vida dos pequenos editores, tais como quando, numa Feira do Livro de Lisboa, a Porto Editora e a Leya exigiram espaços maiores – “não somos todos editores” – ou quando, no ano de 2008, se assistiu ao final do reinado da conta-firme, que soçobrou diante da invasão das consignações. Indicou também momentos positivos, destacando a chegada da impressão digital, perfeita para quem se atira a pequenas tiragens e quer imprimir de forma faseada uma mesma edição, o que veio tornar as coisas muito interessantes para os pequenos projectos. Ainda assim, considera que “não há editoras independentes“.

“Estamos nisto numa lógica diferente“, avança Adriana Oliveira, apresentando a Flop como um colectivo de cinco pessoas empregadas que procura normalmente autores ainda não publicados, e que tem contado com a generosidade dos tradutores. Do seu catálogo curto mas muito sumarento fazem parte “Para acabar de vez com o juízo de Deus e outros textos finais (1946-1948”, de Antonin Artaud, “Cinquenta e seis – vinte e cinco da terra e do rio, trinta e um do mar e dos viajantes”, de Esménio, “145 Poemas”, de Konstantinos Kaváfis, e “Três horas esquerdas”, de Daniil Kharms, num processo editorial onde existe “um lado de gozo muito grande” e onde, no processo de escolha – que tem de receber o voto de todos os cinco caso contrário a publicação não avança -, se tentam colocar no papel de leitores, mais do que no de editores.

A Flop vê na Internet e nas livrarias pequenas o seu maior alimento – bem como nos livros que Adriana transporta na bagageira do seu yaris para venda em mão ou no facto de os leitores poderem tornar-se co-editores de um livro do catálogo da Flop -, mostrando um largo optimismo mesmo nos dias em que a condenação parece certa, tratando de aplicar o dinheiro que fazem com um livro na publicação do seguinte. “A edição do Kaváfis pôs-nos no mapa“.

Para Luiza Nilo Nunes, com a Tlon trata-se da “independência no canône do gosto“, rejeitando aquilo que Barthes definiu um dia como “a repetição vergonhosa” de objectos culturais, onde “o que parece mudar é superficial“. Até ao momento são cerca de 90 autores aqueles que se viram publicados nos quatro números da revista, todos eles com as tiragens esgotadas. Destacou também a importante comunidade literária que se tem formado em livrarias do Porto como a Gato Bravo, a Flâneur ou a Utopia, e que tem posto a revista no mapa criando um público bastante fiel.

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A confiança é outra das razões que Adriana vê como uma mais-valia das pequenas editoras independentes: “Nas grandes editoras há livros fantásticos mas não se pode confiar tanto. Quero ter a arrogância de que se publiquei Kaváfis e Artaud, se publicar um livro de um autor desconhecido os nossos leitores também irão querer ler esse“.

Pedro Marques fala de “um país onde as pessoas pensam que o livro nasce por magia“, desconhecendo quase por completo todas as etapas que fazem parte do processo de edição. Preferindo falar antes de uma “ditadura do não gosto“, refere a cultura portuguesa, talvez irrecuperável, da preservação do livro, referindo que a capital portuguesa nunca foi até hoje capital mundial do livro e que “falta uma disponibilidade para o livro e para se investir na história do livro“. Fala também no que é ser livreiro no nosso país: “Em Buenos Aires, pessoas que vendem na rua são considerados livreiros. Em Portugal há ainda um snobismo muito grande em relação ao que é um livreiro“.

Luiza Nunes diz não ter grandes preocupações racionais, centrando o seu filtro na palavra: “Já publiquei autores com 21 e com 60 anos de idade. Não existe dados biográficos sobre eles, naquele momento isso não importa. Tenta-se com isso trazer o leitor para dentro do livro“.

Adriana Correia diz que por estes dias se vendem livros “como se fossem latas de atum ou um resort cinco estrelas, fazendo dos autores pop stars“. Relativamente ao facebook, usam-no porque “está lá e é fácil. Se tivéssemos de pagar se calhar não lá estaríamos“. Defende que o processo editorial sempre foi um trabalho penoso, de nicho, defendendo uma relação de reciprocidade: “Queremos que os leitores venham ter connosco. As pessoas também têm de ir à procura dos livros“. Para os que vivem fora de Lisboa, a Flop oferece os portes de envio.

Afirmando que foi graças à Internet que pôde começar a negociar com alfarrabistas da Argentina, Pedro Marques abordou também a importante e muitas vezes decisiva questão dos distribuidores, dizendo que “de bom grado deixaria 40% ao Estado se tivesse a certeza de que os livros iriam te contacto com o leitor“. Quanto ao seu autor ideal, “estrangeiro e morto há mais de 70 anos. E poesia nem me atrevo“.

O Folio – Festival Literário Internacional de Óbidos continua até dia 20 de Outubro. Consulte aqui o programa.

 

Fotos: Luisa Velez

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Pedro Miguel Silva

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