A entrada de Karin Slaughter nas livrarias portuguesas – com edição nacional – deu-se pela mão da Topseller, que publicou três dos (até agora) nove livros da série Will Trent, umas das melhores coisas que aconteceu ao policial moderno a par de Joe Nesbo e Stieg Larsson – só para dar dois exemplos.
“Flores Cortadas” (HarperCollins, 2016), o seu mais recente livro, cai fora do planeta Will Trent e de personagens tão fantásticas como Angie Polaski, Faith Michell e, claro, o próprio Will Trent mas, apesar de estar uns furos abaixo daquilo que experimentámos nos livros anteriores em termos da construção de personagens e do desenho da própria trama, continua a manter vivas algumas das características muito particulares do universo de Slaughter: uma descrição clínica da violência, a capacidade de levantar os pêlos dos braços dos leitores e, também, um olhar implacável no que toca às relações humanas, sobretudo aquelas que ocorrem entre mulheres. Querem um exemplo? Aqui fica: “Claire conhecia bem aquelas críticas, pois eram amigas de toda a vida. Era suficientemente bonita para ser a líder, mas nunca fora capaz de inspirar o tipo de lealdade temerária que fazia falta para comandar uma alcateia de lobas. Era, pelo contrário, a rapariga calada que se ria de todas as brincadeiras, que ficava para trás no centro comercial, que se sentava sempre na parte mais desconfortável do banco de trás do carro e que nunca, jamais, deixava que descobrissem que andava a foder com os namorados delas.” Ouch.
Passou mais de uma década desde que Julia, a irmã mais velha de Claire e Lydia, desapareceu sem deixar rasto, criando uma cisão familiar que resultou no suicídio do pai e na ruptura das relações entre mãe e irmãs, que se deixaram de falar e seguiram caminhos opostos, alguns deles ao espírito sex, drugs and rock `n` roll.
Na actualidade, Claire é a esposa decorativa de um milionário, enquanto Lydia mantém uma relação um pouco agitada com um ex-presidiário, tendo conseguido afastar-se dos maus caminhos que se havia habituado a percorrer. Quando, porém, o marido de Claire é morto e uma jovem desaparece, a vida das duas irmãs volta a cruzar-se. Entre a vontade de reparação e a impossibilidade do perdão, Claire e Lydia terão de se unir para lutarem pela própria sobrevivência – e, quem sabe, arrumarem o passado numa caixa de sapatos.
No seu estilo muito peculiar, Karin Slaughter atravessa como um furacão uma tragédia familiar, num thriller com elevados índices de susto e violência e, uma vez mais, o leitor é convidado a visitar lugares tomados pela obscuridade, sejam eles físicos ou gerados pela mente humana. Espera-se agora que a HarperCollins, que recentemente tomou conta da edição de Karin Slaughter – bem como de outros autores – em Portugal, continue a publicar a obra da escritora norte-americana. Em particular os volumes da série Will Trent que estão em falta.
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