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“Flicts” + “A Bolsa Amarela” + “Bisa Bia Bisa Bel” | Colecção Pererê

Por Julia Martins · Em 09/10/2023

A editora Tinta da China e o Jornal Público dão vida à colecção Pererê, trazendo para Portugal os maiores clássicos da literatura infanto-juvenil brasileira, numa edição graficamente cuidada e esteticamente belíssima. Os livros serão publicados no texto original, em português do brasileiro, sem adaptações, com o objectivo de apresentar às crianças e jovens portugueses a riqueza da língua comum, mostrando como a língua pode ser festa e cor. Falamos aqui de três títulos desta colecção.

“Flicts” (Tinta da China, 2023), a lenda da literatura brasileira, do grafismo e do poder da cor como linguagem, apresenta-se em Portugal 50 anos depois de ter nascido, sendo o volume inaugural desta colecção.

“Era uma vez uma cor muito rara e muito triste que se chamava Flicts.

Não tinha a Força do Vermelho, não tinha a imensa luz do Amarelo, nem a paz que o Azul tem.

Era apenas o frágil e feio e aflito Flicts.

Tudo no mundo tem uma cor, tudo no mundo é Azul, Cor- de- Rosa ou Furta-Cor, é Vermelho, Amarelo, Roxo, Violeta ou Lilás. Mas não existe nada no mundo que seja Flicts. – Nem a sua solidão – (…) “

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Muitas são as cores que habitam no mundo: quentes, frias, primárias e secundárias, claras e escuras, opacas ou neutras. Cores que nos irritam ou nos fazem sonhar, que provocam emoções e reacções, mas nenhuma é como Flicts: a cor que não é igual a nenhuma outra e que só quer encontrar um amigo que a aceite tal como ela é. Decide por isso correr mundo, em busca do seu lugar. Por mar, por terra, a procura não termina. A viagem é longa. Será que Flicts conseguirá encontrar o seu lugar, o seu espaço no mundo?

“Flicts” é uma revolução no grafismo, mas não só. É também um poema visual ímpar, raro, incomparável, inimitável. As ilustrações falam por si. As simbologias das cores dão ritmo e sentido às palavras. À cor é dada vida como nunca tinha acontecido na literatura. Grafismo e texto pintam o mundo, o arco-íris, bandeiras e a(s) lua(s).

Este é um livro para nos acompanhar, para dar cor à nossa vida, ao nosso lugar no mundo. Inclui ainda um texto de Fernando de Castro Ferro da primeira edição, bem como uma recensão de Carlos Drummond de Andrade.

“A Bolsa Amarela” (Tinta da China, 2023) conta a história de uma menina que entra em conflito consigo mesma e com a família, ao reprimir três grandes vontades.

“Eu tenho que achar um lugar pra esconder as minhas vontades. Não digo vontade magra, pequenina, que nem tomar sorvete a toda hora, dar sumiço da aula de matemática, comprar um sapato novo que eu não aguento mais o meu. Vontade assim todo mundo pode ver, não tô ligando a mínima. Mas as outras – as três que de repente vão crescendo e engordando toda a vida -, ah, essas eu não quero mostrar. De jeito nenhum.

Nem sei qual das três me enrola mais. Às vezes acho que é a vontade de crescer de uma vez e deixar de ser criança. Outra hora acho que é a vontade de ter nascido garoto em vez de menina. Mas hoje tô achando que é a vontade de escrever. “

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Página após página vamos conhecendo uma menina sensível, insatisfeita e imaginativa, que partilha connosco o seu dia-a-dia. Contesta ordens e recomendações, afirmando-se como pessoa que pensa, questiona, argumenta e opina. Uma menina que quer saber qual o seu lugar no mundo e na família.

Um dia, ganha uma bolsa. Era amarela, a cor mais bonita que existe. Nela escondia segredos, fantasias e amigos incríveis, como por exemplo o galo Rei que, depois, passa a chamar-se Afonso, querendo que todos tivessem voz e desejando a igualdade e liberdade; ou o galo Terrível, treinado para ganhar todas as lutas, até que um dia aparece um galo mais novo e mais forte, que passou a vencer todas as lutas.

“A Bolsa Amarela”, de Lygia Bojunga, é uma história onde o mundo real e a ficção são um só, um livro maravilhoso e deslumbrante. Foi publicado originalmente em 1976, época em que o Brasil vivia o período da ditadura militar. Uma informação pertinente para compreender a ansiedade e o desejo da protagonista por ser aceite e livre.

“Bisa Bia Bisa Bel” (Tinta da China, 2023) é mais um dos títulos desta coleção. Trata-se de uma narrativa cheia de imaginação, onde o tempo é um elemento essencial e as perguntas não podem faltar.

“A primeira vez, bem que Bisa Bia estava escondida. Só apareceu por causa das arrumações da minha mãe. (…) Dá uma geral, como ela diz. Arruma, arruma, arruma, dois, três dias seguidos… (…) Pois foi numa dessas arrumações, quando minha mãe estava dando uma geral, que eu fiquei conhecendo Bisa Bia. (…)

– Ué, essa avó eu não conheço. Só conheço a vó Diná e a vó Ester. Tem outras, é?

– Tem, mas é minha. Vovó Beatriz. Sua bisavó.”

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A fotografia da avó Beatriz é o ponto de partida. Entre o passado e o presente, entre a realidade e o imaginário, a bisavó entra na vida de Bel, acompanhando-a para todos os lugares e revelando-nos um mundo que já não existe. Entre o espanto e as perguntas sobre a vida, a roupa, os objectos e os costumes, vamos, pouco a pouco, compreendendo o papel da mulher e as mudanças sociais.

A colecção Pereré é para acompanhar, uma vez que novos títulos já estão nos escaparates e outros mais virão. Uma excelente colecção.

Sobre os autores

Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais, em Outubro de 1932. Seu nome vem da combinação dos nomes de sua mãe, Zizinha, e o de seu pai, Geraldo. Desde criança já mostrava seu talento para o desenho. Com seis anos teve um desenho seu publicado no jornal Folha de Minas. Ziraldo é artista gráfico, humorista, escritor, ilustrador, cartunista, dramaturgo e jornalista. É o criador do personagem de quadrinhos infantil “O Menino Maluquinho”. Foi um dos fundadores da revista humorística “O Pasquim”. Premiado no Brasil e no exterior, recebeu, entre outros, o conceituado Prémio Ibero-americano de Humor Gráfico Quevedos, pela « qualidade e importância da obra, seu compromisso social , sua difusão e grande repercussão internacional».

Lygia Bojunga nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, mas mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro. Nos últimos 20 anos, tem dividido o seu tempo entre essa cidade e Londres. Trabalhou como atriz, tradutora e autora de textos para rádio, teatro e televisão. Já escreveu 20 livros, entre os quais os clássicos “A Bolsa Amarela”, “A Casa da Madrinha” e “Corda Bamba”, e está traduzida em 19 idiomas. Foi a primeira escritora fora do eixo Europa-EUA a ganhar o Prémio Hans Christian Andersen.

Ana Maria Machado nasceu no Rio de Janeiro em 1941. Tem mais de cem livros publicados, entre romances, ensaios e diversos títulos de literatura infanto-juvenil. Formou-se em Letras na Universidade do Brasil. Fez parte da resistência dos professores durante a ditadura militar e, após ser presa pelo governo militar, exilou-se na Europa em 1969. Nesse período, trabalhou como jornalista, escreveu contos para crianças publicados na revista brasileira Recreio e lecionou na Sorbonne. O reconhecimento mundial da sua obra aconteceu em 2000, quando recebeu o Prémio Hans Christian Andersen, nesse mesmo ano foi agraciada, no Brasil, com a Ordem do Mérito Cultural. Recebeu ainda, entre outros, o Prémio Jabuti (1978) e o Prémio Machado de Assis (2001). Em 2003, tornou-se a primeira escritora de livros infanto-juvenis eleita para membro da Academia Brasileira de Letras, que presidiu entre 2012 e 2013.

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Julia Martins

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