“Por fim, levantámos âncora de Sevilha e começámos a descer lentamente o rio Guadalquivir. E, no dia 20 de Setembro desse ano de 1519, zarpámos do porto andaluz de Sanlúcar de Barrameda. Tínhamos o imenso oceano Atlântico à nossa frente e começava a verdadeira aventura.”
Era o início de uma viagem, sob o comando do navegador português Fernão de Magalhães, que ficaria conhecida na história como a primeira viagem de circum–navegação. Circum-navegação? Sim, significa navegar a Terra em seu torno, dando uma volta completa. Mas quem é Fernão Magalhães? Um navegador português, o português mais famoso de sempre. Sim, o mais famoso de todos. Passados cinco séculos da partida do porto de andaluz o nome de Fernão de Magalhães continua a ser pronunciado, e com o nome “foram baptizadas duas galáxias, uma sonda espacial da NASA que viajou até Vénus, uma cratera de Marte, um estreito entre dois oceanos, um sistema de GPS pioneiro, um modelo de computador, uma baía e um tipo de pinguins – já para não falar de muitos lugares e navios da realidade e da ficção!“. “Fernão de Magalhães – O Homem que se Transformou em Planeta” (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019), assinala os 500 anos da circum-navegação.
Quando o autor do texto, Luís Almeida Martins, se prepara para escrever sobre o famoso navegador, foi surpreendido por “um homem baixote. Muito sério, de espessa barba negra, vestido de escuro e com um chapéu pequeno enterrado na cabeça. Nem queria acreditar! Quem é o senhor? Perguntou. O estranho visitante, com o que me pareceu ser uma pronuncia antiquada e fazendo uma ligeira vénia. Fernão de Magalhães, para o servir”.
É assim que começa este livro, oscilando entre a narração do navegador, a descrição dos estados de espirito e dos acontecimentos históricos de 1529, ou das informações do que seguia a bordo da frota marítima: “o gado vivo, que ia sendo abatido à medida das necessidades”, o “biscoito, que não era bem o que agora se entende por esta palavra, mas sim pão torrado suas vezes, seguidas (daí bis-coito, ou bis-cozido)”, a “água, contida em barricas” e as sacas de “farinha, para ser amassada com água do mar”.
Agradecemos ao cronista italiano Antonio Pigaffeta, a quem devemos “muitos dos pormenores da expedição, pois Pigafetta deixou tudo escrito muito bem contado num diário”. Só assim é possível ler este livro, permitindo aos jovens leitores a ampliação dos conhecimentos acerca circum-navegação. “Tinha cerca de 25 anos quando parti, como soldado, para as regiões onde cresciam a escaldante pimenta, a aromática canela, a sofisticada noz moscada, o quase mítico cravinho – este último nessas ilhas chamadas Molucas, mas que eu, insisto, acho que eram antes malucas, porque faziam enlouquecer as pessoas”. Foi nesta e noutras missões que conquistou um conhecimento náutico e geográfico que o permitiu navegar por esse mundo fora e descobrir “um oceano até então desconhecido dos navegadores europeus, o tal a que Balboa chamara “Mar do Sul”. Foi tal a calmaria que ali encontrámos, em contraste com as dificuldades vividas no estreito, que decidi baptizar de Pacífico aquela gigantesca massa de água”.
Fernão de Magalhães desejou, sonhou que esta expedição fosse ao serviço da coroa portuguesa mas, infelizmente, D. Manuel I, O Venturoso, recusa-lhe as condições e apoio para tal aventura. “O que faria, Vossa Escrevedoria, no meu lugar? Eu, na altura, não vi outra solução que não fosse perguntar a El-Rei se me era permitido ir servir outro soberano. Pois então que fosse, foi a resposta que me deu o senhor da navegação e comercio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia!”. Foi então que se dirigiu para Sevilha, em 1517. Já em Espanha, deslocou-se a Valladolid, em 1518, onde reuniu com D. Carlos V, apresentando-lhe a sua ideia de alcançar as Ilhas das Especiarias, por via marítima, pelo Ocidente.
As belíssimas ilustrações de António Jorge Gonçalves dão visibilidade às naus, aos trajes, às paisagens que se vislumbram ao longo do caminho marítimo, numa complementaridade feliz com o texto. O livro é acompanhado de uma capa desdobrável, com a ilustração da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães.
Luís Almeida Martins é jornalista, divulgador de temas históricos, ficcionista, guionista e tradutor. Nasceu em Lisboa em 1949 e licenciou-se pela Faculdade de Letras. Publicou os primeiros textos no Diário de Lisboa Juvenil, mas ao longo dos tempos trabalhou em vários jornais como A Capital, O Jornal, Se7e, Jornal de Letras e, em 1978, fundou a revista História. No campo da ficção, é autor dos romances “Viva Cartago” (1983) e “O Tesouro Africano” (2002) e de uma biografia juvenil romanceada de Vasco da Gama (1998). Na área da televisão, é autor ou co-autor de muitas séries, com destaque para “A Estação da Minha Vida”, “Rua Sésamo” e “Arca de Noé”.
António Jorge Gonçalves nasceu em Lisboa. Licenciou-se em Design de Comunicação, na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, e fez mestrado em Cenografia de Teatro. O seu trabalho envolve ilustração editorial, performance visual e cartoons políticos. É autor dos álbuns de banda desenhada e novelas gráficas. Na última década, as suas performances de Desenho Digital têm tido lugar um pouco por todo o mundo, envolvendo grandes artistas nacionais e estrangeiros. Foi distinguido, em 2014, com o Prémio Nacional de Ilustração da DGLAB.
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