Faz diferença brincar com as palavras? Ler sempre a mesma história? Terminá-la com um ponto final ou reticências? Faz diferença o contexto? “Faz Diferença” (Bruaá, 2022) é um álbum bem-humorado e divertido, para observar, pensar e questionar, um convite ao leitor para entrar no jogo do mundo polissémico. Num diálogo permanente entre a imagem e a palavra, o leitor é envolvido num movimento ritmado onde se exercita o diálogo do plural e do singular, do individual e do colectivo, do visível e invisível, do semelhante e do desigual. A relevância da palavra é notória. Escrever “uma lua” ou “duas luas” fará diferença? Atrás das palavras há segredos, sentidos díspares, verdades e mentiras, risos e silêncios. Pensamentos. Perguntas. Afinal, o que pode uma palavra?
“Um pássaro no céu desenha um M (Morte? Mentira?). Um bando de pássaros no céu escreve um V (Vida? Verdade?).”
“Uma palavra que sai mal é uma gralha. Uma palavra que sai bem é só uma palavra.”
“Um homem é um livro aberto. A humanidade é uma biblioteca desarrumada.”
Página após página, deparamo-nos com imagens e palavras que dançam na busca incessante de sentido, provocando a curiosidade e a experimentação. Somos convidados a desbravar conceitos, a superar contradições intrínsecas da lógica e da sintaxe, a permanecer no mundo da poética e a exercitar a problematização.
“O caos é cósmico. A confusão é cósmica.”
“Destino: lugar para onde se vai de comboio. Acaso: lugar por onde se passa de bicicleta.”
O que é o caos? A confusão está na minha cabeça? O mundo é caótico? As palavras serão confusas? O que é o acaso? Destino: será a ordem ou desordem cósmica? “Faz Diferença” é um livro perguntador, que aguça a curiosidade, explora a linguagem e questiona o simples, o óbvio, ampliando a compreensão do mundo e das coisas que nos rodeiam. As perguntas desencadeiam o diálogo e este dilata o pensamento, treina o raciocínio e a argumentação. No final do livro, três pontos azuis, num fundo branco, desafiam, de novo, a arte de perguntar e de muitos outros jogos linguísticos. As guardas iniciais e finais, padronizadas, suscitam múltiplas perguntas. Nelas habitam numerosas histórias, observáveis e impercetíveis.
“Faz Diferença” é um livro fabuloso, um verdadeiro exercício de liberdade, comunicação e linguagem, mas também de observação, atenção e, essencialmente, de escuta. Ao fazê-lo, tornar-nos-emos mais atentos ao mundo e conseguiremos dialogar.
Jacinto Lucas Pires escreve romances, contos, peças de teatro, filmes, música. Depois d’ “A Gargalhada de Augusto Reis”, publicou em 2020 “Oração a que Faltam Joelhos”. Também nesse ano foi publicado, na colecção do TNDM II, “Canto da Europa”. No teatro, Lucas Pires trabalha com diferentes grupos e encenadores. Realizou o filme “Triplo A”. Faz parte da banda musical Os Quais e da companhia Ninguém. Recebeu o Prémio Europa — David Mourão-Ferreira e o Grande Prémio de Literatura DST 2013. Durante o confinamento, lançou um livro de contos, “Doutor Doente”, e, em Setembro de 2021, venceu o Prémio John Dos Passos.
Alice Piaggio nasceu em Genova e é formada em Ilustração. Actualmente vive na Suiça, rodeada de montanhas cobertas de neve, prados verdes e bosques de castanheiros. Venceu o Prémio Illustri 2019 na categoria Revista e Jornal. Em 2021, foi seleccionada entre 20 jovens ilustradores, pela Feira do Livro Infantil de Bolonha, e expôs na mostra Eccellenze Italiane.
1 Commentário
Vou comprar o livro, já li outros e gostei.Recomendo.