A Imprensa Nacional-Casa da Moeda associa-se ao Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas e homenageia o lobo – não todos, mas um que é “diferente de todos os outros. Há lobos em todo o hemisfério norte do planeta, mas eu pertenço a uma subespécie chamada lobo-ibérico. O nosso nome científico é canis lupus signatus e vivemos apenas a oeste dos Pirenéus. Ou seja, em Portugal e Espanha“.
“Eu Sou o Lobo – O Rei da Floresta Portuguesa” (Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2019) conta-nos a história do lobo-ibérico, o maior predador português, diferente de todos os outros. A alegada ferocidade do lobo e o roubo de animais de criação levaram à caça sistemática desta espécie, o que contribuiu para a sua caça. Com o próprio nos conta, “hoje não somos mais de 300, e estamos concentrados em território cada vez mais pequenos”. Actualmente é uma espécie protegida em Portugal e, desde 1989, vive numa alcateia de forte organização hierárquica. Astuto como qualquer lobo, é também um caçador eficaz, sabendo esperar pela melhor oportunidade para a emboscada, “de maneira a não gastar mais energia no ataque do que a necessária”.
Afinal, por quem os lobos uivam? Pela alcateia! É a forma de comunicarem e, se “for para reunir o grupo, o uivo tem menor amplitude, mas se quiserem avisar outros animais para se manterem afastados, os uivos podem ouvir-se a vários quilómetros”. Avançando na leitura, muito mais, ficamos a saber mais sobre o lobo-ibérico: como agir se nos cruzarmos com ele na floresta; como algumas culturas reconhecem qualidades divinas ao lobo; ou quais as razões que levaram à construção de um “Centro de Recuperação do Lobo-Ibérico, em Mafra. Seja porque alguém nos tenta domesticar, seja porque os nossos progenitores foram mortos e não tivemos oportunidade de aprender a caçar, seja simplesmente porque partimos os dentes e já não somos capazes de tomar conta do nosso destino”.
Quase no final do livro, antes de serem esclarecidas algumas palavras uivantes, ficamos a saber que a Imprensa Nacional – Casa da Moeda cunhou, em 2019, 2500 moedas em prata e 40 000 em cuproníquel, em homenagem do lobo-ibérico. O livro é ainda acompanhado de uma capa desdobrável, que nos mostra um lobo no seu habitat.
As belíssimas ilustrações de Susana Diniz e Pedro Semeano dão visibilidade ao lobo, aos seus uivos, emoções, às múltiplas facetas da vida de um lobo. Vivas, em tons de laranja e lilás, as ilustrações transmitem o equilíbrio entre os sentidos e a razão da nossa sensibilidade, por vezes contraditória em relação ao lobo. Se, por um lado, reconhecemos a sua astúcia e beleza, por outro legitimamos o seu aspecto feroz e sinistro. As linhas curvas, ora discretas, ora expressivas, abrem portas para a vida em alcateia, para a compreensão da vida do lobo: “Sobreviver, para a minha espécie, não é fácil. Temos de enfrentar muitas dificuldades ao longo do nosso tempo de vida. Se um lobo em cativeiro vive facilmente 17 anos, um que esteja em estado selvagem raramente ultrapassa os 13”.
Ricardo J. Rodrigues nasceu em 1976 e é jornalista. Escreve na Notícias Magazine e ensina jornalismo na Universidade Lusófona, em Lisboa. Integrou a equipa fundadora da revista Focus e colabora com vários jornais e revistas, dentro e fora de Portugal. Estudou no Committee of Concerned Journalists, em Washington DC, e na Universidade Nova de Lisboa.
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