40 mulheres encontram-se, há anos, detidas numa cave. Guardas mudos, que as vigiam ininterrupta e diligentemente, mantêm-nas em total ignorância acerca dos motivos para o seu cativeiro e sobre a sua sorte. “O que querem eles de nós?”, questionam-se. Com o passar do tempo, a resignação contagia as prisioneiras, que entretanto se convenceram de que dali “não sairiam senão mortas”.
Ao contrário das companheiras de cela, a narradora e protagonista de “Eu Que não Conheci os Homens” (Livros do Brasil, 2025) não possui quaisquer memórias do mundo exterior. Liberta das amarras do passado, deixa que a sua imaginação a transporte, em pensamento, para fora daquela prisão subterrânea. Até que um dia a jaula se abre misteriosamente e, com ela, as aparentes possibilidades infindáveis de uma vida em liberdade.

A acção decorre de uma assentada, na qual a história dramática deste grupo de mulheres se desenrola por via de oscilações emocionais, vagas de esperança e tempestades de terror. O texto é amplamente prosaico, livre de recursos criativos, beneficiando da ingenuidade da narradora anónima, que descobre nas companheiras de cárcere e, em si mesma, a sede de (sobre)viver e o engenho necessário para fazer frente às contingências de uma vida comunitária.
Neste comovedor romance de carácter filosófico-feminista e inspiração sci-fi pós-apocalíptica, a autora Jacqueline Harpman carrega sobre as costas das suas personagens a responsabilidade inerente ao livre-arbítrio – e as vicissitudes da condição da nossa espécie. Um livro intrigante, que relega respostas para promover a reflexão existencial, através da qual o leitor é convidado a conhecer, essencialmente, o que significa ser humano.
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