• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Eu Elton John, Elton John, Deus Me Livro, Crítica, Porto Editora
Mil Folhas 1

“Eu, Elton John” | Elton John

Por Sofia Lima · Em 30/09/2020

“O melhor do rock and roll é que alguém como eu pode ser uma estrela.”

Se há algo que “Eu, Elton John” (Porto Editora, 2019) tem é o caminho para as estrelas, num percurso ascendente com muita perseverança e talento, com alguma dúvida e pouco receio. O homem de Rocket Man conta-nos na primeira pessoa, sem modéstia ou meias palavras, a sua entrada na música e a sua expansão a rock star.

Uma das características de uma autobiografia de um músico de enorme renome é a viagem garantida a um mundo de sexo, drogas e rock n’ roll, o que pode perfeitamente encher as medidas a todos aqueles que cantam em frente ao espelho, tocam air guitar ou estão presentes nos grandes festivais de música. Tome-se como exemplo “Apenas Miúdos”, de Patti Smith, o “Dancing With Myself”, de Billy Idol, ou “Does the Noise in My Head Bother You?”, de Steven Tyler, livros que dão a certeza ao leitor (ou fã) que o mundo da música é uma montanha-russa de emoções, experiências, obstinação e algumas quedas.

Elton John talvez seja reconhecido primordialmente, se reduzirmos a questão ao máximo, pela sua excentricidade e mau feitio. Músico de enorme talento, Elton John criou o seu caminho pela fama dentro a custo da extravagância e da imagem, que aparentemente nasceram do seu fascínio pelo comportamento original de músicos como Little Richard em palco. Lembremo-nos que esta história nasce nos anos sessenta e que se consolida nos setenta, décadas de enorme importância para a reviravolta no mundo da música. Nasceu o rock n’ roll, ouviram-se os gritos de ajuda da Beatlemania, aconteceu o afastamento das gerações mais novas das anteriores, bastante mais conservadoras, dando força a este novo estilo musical. Havia espaço para crescer e os mais ousados ocuparam o seu lugar.

Neste caso, aquilo que Elton John nos conta, em última instância, é que foi o seu interesse pela forma, e não tanto pelo conteúdo, que os seus primeiros passos foram dados e que, em pouco tempo, o catapultaram para a fama. Podemos considerar que esta superficialidade é aquilo que define a história que nos conta: os fatos, o interesse absurdo pela estética, o esbanjamento e o acumulamento são os elementos constantes ao longo das páginas. Isso, aliado à vaidade, resulta num livro que talvez seja uma ode a si próprio. Não que haja de errado nisso, pois no fundo “Eu, Elton John” é um espelho fiel do autor, mas a perspectiva superficial e colorida que nos é apresentada acaba por ser mais uma prova de que Elton John se tem elevada consideração e que a modéstia não é algo que lhe assente bem, ainda que encontremos muitas passagens em que o músico confesse as suas dúvidas sobre o seu percurso e agradeça a sorte que tenha. Quem seria ele sem Bernie Taupin, o letrista? O que teria acontecido se não tivesse aceitado o convite para tocar no Troubadour? Mas, mais uma vez, identificamos uma ausência de introspecção e de auto-análise. Tudo fica à superfície.

Na sua ascensão, Elton John vai-se afastando gradualmente da realidade e criando freneticamente uma vida paralela: sim, a de rock star. John Lennon ou Ringo Star deixaram de ser ídolos para passarem a amigos. Dusty Springfield é uma companhia regular. A Princesa Diana torna-se visita de casa. O relacionamento hilariante com Rod Stewart. Bob Dylan, Richard Gere, Elvis, Sylvester Stallone, Brian Wilson, Ray Charles e tantos outros fazem parte desta história, na qual são narrados episódios caricatos que foram tomando lugar ao longo dos anos. E isso talvez seja uma das componentes mais interessantes do livro. Independentemente da opinião que o leitor tenha sobre a música de Elton John, a personagem que este criou ou sobre a sua história de vida, há que apreciar o contexto em que tudo isto acontece. Ouvirmos, na primeira pessoa, a integração num mundo que se aproxima do onírico, de tão afastado que é, torna essa realidade mais palpável, concreta e fascinante.

CríticaDeus Me LivroElton JohnEu Elton JohnPorto Editora

Sofia Lima

Pode Gostar de

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular, Mil Folhas

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

1 Commentário

  • FRANKLIN JORGEDO NASCIMENTO ROQUE comentou: 11/08/2021 at 21:56

    Muito massa!

    Resposta
  • Deixe uma opinião Cancelar

    Siga-nos aqui

    Follow @Deus_Me_Livro
    Follow on Instagram

    Mil Folhas

    • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

      Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

      08/05/2025
    • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

      Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

      08/05/2025
    • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

      “O Som da Mentira” | Amy Tintera

      07/05/2025
    • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

      “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

      07/05/2025
    • Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria, Mariana Enriquez, Deus Me Livro, Crítica, Quetzal,

      “Um Lugar Luminoso Para Gente Sombria” | Mariana Enriquez

      30/04/2025
    Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

    Archives

    • May 2025
    • April 2025
    • March 2025
    • February 2025
    • January 2025
    • December 2024
    • November 2024
    • October 2024
    • September 2024
    • August 2024
    • July 2024
    • June 2024
    • May 2024
    • April 2024
    • March 2024
    • February 2024
    • January 2024
    • December 2023
    • November 2023
    • October 2023
    • September 2023
    • August 2023
    • July 2023
    • June 2023
    • May 2023
    • April 2023
    • March 2023
    • February 2023
    • January 2023
    • December 2022
    • November 2022
    • October 2022
    • September 2022
    • August 2022
    • July 2022
    • June 2022
    • May 2022
    • April 2022
    • March 2022
    • February 2022
    • January 2022
    • December 2021
    • November 2021
    • October 2021
    • September 2021
    • August 2021
    • July 2021
    • June 2021
    • May 2021
    • April 2021
    • March 2021
    • February 2021
    • January 2021
    • December 2020
    • November 2020
    • October 2020
    • September 2020
    • August 2020
    • July 2020
    • June 2020
    • May 2020
    • April 2020
    • March 2020
    • February 2020
    • January 2020
    • December 2019
    • November 2019
    • October 2019
    • September 2019
    • August 2019
    • July 2019
    • June 2019
    • May 2019
    • April 2019
    • March 2019
    • February 2019
    • January 2019
    • December 2018
    • November 2018
    • October 2018
    • September 2018
    • August 2018
    • July 2018
    • June 2018
    • May 2018
    • April 2018
    • March 2018
    • February 2018
    • January 2018
    • December 2017
    • November 2017
    • October 2017
    • September 2017
    • August 2017
    • July 2017
    • June 2017
    • May 2017
    • April 2017
    • March 2017
    • February 2017
    • January 2017
    • December 2016
    • November 2016
    • October 2016
    • September 2016
    • August 2016
    • July 2016
    • June 2016
    • May 2016
    • April 2016
    • March 2016
    • February 2016
    • January 2016
    • December 2015
    • November 2015
    • October 2015
    • September 2015
    • August 2015
    • July 2015
    • June 2015
    • May 2015
    • April 2015
    • March 2015
    • February 2015
    • January 2015
    • December 2014
    • November 2014
    • October 2014
    • September 2014
    • August 2014
    • July 2014
    • Contacto