“O melhor do rock and roll é que alguém como eu pode ser uma estrela.”
Se há algo que “Eu, Elton John” (Porto Editora, 2019) tem é o caminho para as estrelas, num percurso ascendente com muita perseverança e talento, com alguma dúvida e pouco receio. O homem de Rocket Man conta-nos na primeira pessoa, sem modéstia ou meias palavras, a sua entrada na música e a sua expansão a rock star.
Uma das características de uma autobiografia de um músico de enorme renome é a viagem garantida a um mundo de sexo, drogas e rock n’ roll, o que pode perfeitamente encher as medidas a todos aqueles que cantam em frente ao espelho, tocam air guitar ou estão presentes nos grandes festivais de música. Tome-se como exemplo “Apenas Miúdos”, de Patti Smith, o “Dancing With Myself”, de Billy Idol, ou “Does the Noise in My Head Bother You?”, de Steven Tyler, livros que dão a certeza ao leitor (ou fã) que o mundo da música é uma montanha-russa de emoções, experiências, obstinação e algumas quedas.
Elton John talvez seja reconhecido primordialmente, se reduzirmos a questão ao máximo, pela sua excentricidade e mau feitio. Músico de enorme talento, Elton John criou o seu caminho pela fama dentro a custo da extravagância e da imagem, que aparentemente nasceram do seu fascínio pelo comportamento original de músicos como Little Richard em palco. Lembremo-nos que esta história nasce nos anos sessenta e que se consolida nos setenta, décadas de enorme importância para a reviravolta no mundo da música. Nasceu o rock n’ roll, ouviram-se os gritos de ajuda da Beatlemania, aconteceu o afastamento das gerações mais novas das anteriores, bastante mais conservadoras, dando força a este novo estilo musical. Havia espaço para crescer e os mais ousados ocuparam o seu lugar.
Neste caso, aquilo que Elton John nos conta, em última instância, é que foi o seu interesse pela forma, e não tanto pelo conteúdo, que os seus primeiros passos foram dados e que, em pouco tempo, o catapultaram para a fama. Podemos considerar que esta superficialidade é aquilo que define a história que nos conta: os fatos, o interesse absurdo pela estética, o esbanjamento e o acumulamento são os elementos constantes ao longo das páginas. Isso, aliado à vaidade, resulta num livro que talvez seja uma ode a si próprio. Não que haja de errado nisso, pois no fundo “Eu, Elton John” é um espelho fiel do autor, mas a perspectiva superficial e colorida que nos é apresentada acaba por ser mais uma prova de que Elton John se tem elevada consideração e que a modéstia não é algo que lhe assente bem, ainda que encontremos muitas passagens em que o músico confesse as suas dúvidas sobre o seu percurso e agradeça a sorte que tenha. Quem seria ele sem Bernie Taupin, o letrista? O que teria acontecido se não tivesse aceitado o convite para tocar no Troubadour? Mas, mais uma vez, identificamos uma ausência de introspecção e de auto-análise. Tudo fica à superfície.
Na sua ascensão, Elton John vai-se afastando gradualmente da realidade e criando freneticamente uma vida paralela: sim, a de rock star. John Lennon ou Ringo Star deixaram de ser ídolos para passarem a amigos. Dusty Springfield é uma companhia regular. A Princesa Diana torna-se visita de casa. O relacionamento hilariante com Rod Stewart. Bob Dylan, Richard Gere, Elvis, Sylvester Stallone, Brian Wilson, Ray Charles e tantos outros fazem parte desta história, na qual são narrados episódios caricatos que foram tomando lugar ao longo dos anos. E isso talvez seja uma das componentes mais interessantes do livro. Independentemente da opinião que o leitor tenha sobre a música de Elton John, a personagem que este criou ou sobre a sua história de vida, há que apreciar o contexto em que tudo isto acontece. Ouvirmos, na primeira pessoa, a integração num mundo que se aproxima do onírico, de tão afastado que é, torna essa realidade mais palpável, concreta e fascinante.
1 Commentário
Muito massa!