“Ainda não consigo perceber tudo, mas comecei a reparar que os outros também têm os seus medos… Quem nunca teve medo?”
A personagem do fantástico livro “Eu e o Meu Medo” (Fábula, 2019) narra-nos a experiência de uma menina que muda de país, e que terá de se acomodar ao desconhecido: uma nova escola, novos amigos e colegas, novos hábitos e costumes, passando a maior parte dos dias na companhia “de um amigo pequenino chamado Medo” que a tenta convencer a ficar sozinha e assustada.
Todas as crianças sentem medo, e é normal que sintam. O medo é, de todas as nossas emoções, a mais importante, invasiva e ambígua. O medo é uma reacção de alarme, de carácter imediato ao perigo, uma emoção normal que todos sentimos ao longo da nossa existência. Algo que tem uma duração relativamente curta ou, pelo menos, proporcional à duração da ameaça, mas difícil de ultrapassar: “Eu tenho vontade de sair e explorar o meu novo bairro… mas o Medo recusa-se a arredar pé”.
O que dá segurança aos mais pequenos é a figura do adulto, alguém que transmite tranquilidade e lhes é capaz de ensinar a conviver com as suas emoções. “Eu e o Meu Medo” surpreende-nos. Aqui, apenas há meninos e meninas, e cabe-lhes a eles encontrar o caminho da superação. Um dia, “um menino da minha turma quer mostrar-me uma coisa. (…) Ele também tem um medo secreto. Como eu!“. Será na amizade, que “o Medo vai ficando mais pequenino”, é na partilha que começamos a ter consciência que “os outros também têm os seus medos”. Quando a menina enfrenta os seus receios, afastando as angústias, a confiança aumenta e o medo diminui.
A leitura e a exploração de um livro podem ser um acto terapêutico. “Eu e o Meu Medo”, de Francesca Sanna, é disso um bom exemplo, escrito numa linguagem simples – sem ser simplista -, inovadora e criativa e recorrendo à proximidade do universo dos destinatários: a casa, o quarto, a escola, o recreio ou um novo país. E tudo sem personagens estereotipadas, pelo contrário. Ao virar as páginas encontramos uma multiplicidade de meninos e meninas de cores e gostos distintos.
Francesca Sanna presenteia-nos com um livro-álbum onde as ilustrações e as palavras vivem numa harmonia delicada e sensível. O texto é breve, complementando-se e recriando-se na imagem numa imensa cumplicidade. A forte componente pictórica potencia a exploração de ambientes, sentimentos e emoções. O medo surge em tamanhos maiores ou menores, consoante as situações, com um olhar vigilante sobre as nossas acções – e sempre em tons alvos, fazendo acreditar que a paz e a tranquilidade irão chegar.
Francesca Sanna é uma ilustradora e designer gráfica italiana que se mudou para a Suíça para realizar o sonho de trabalhar como ilustradora. Graduou-se em 2015 pela Faculdade de Arte e Design de Lucerna com um Mestrado em Design, especializando-se em Ilustração. “Eu e o Meu Medo” suriue após o sucesso do seu livro de estreia, “A Viagem”, o qual teve o apoio da Amnistia Internacional e é recomendado pelo Plano Nacional de Leitura.
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