Será que vivemos numa era revolucionária? Com base numa série de mudanças políticas, económicas, tecnológicas e sociais, Fareed Zakaria – conhecido apresentador da CNN – defende que sim em “Era de Revoluções” (Gradiva, 2024), um livro onde se revela um analista perspicaz do passado e do presente, bem como um lúcido pensador acerca do futuro.
O conceito de revolução é o tema central da obra, que começa por tentar esclarecer as origens e as consequências de um período revolucionário – identificando vários desde 1600, para depois examinar a actualidade. É assim que recuamos até aos Países Baixos de finais do século XVI, onde se deu a primeira revolução liberal, que criou a forma republicana de governo que hoje predomina no mundo e, graças à riqueza proveniente do comércio e do investimento, transformou Amesterdão numa cidade moderna, com bolsa de valores, transportes públicos, água relativamente limpa e o primeiro sistema de iluminação pública do mundo. Depois, descobrimos como tal mudança alastrou à Grã-Bretanha de finais do século XVII, combinando-se com a Revolução Industrial para transformá-la numa potência mundial.
Pelo seu vasto impacto, é dito da Revolução Industrial que “criou o nosso mundo moderno com todas as suas maravilhas, crueldades, glórias e hipocrisias”, marcando uma ruptura com o passado semelhante à que a revolução digital tem vindo a traçar.
Pelo meio, há uma breve referência ao papel dos portugueses na globalização e uma análise da Revolução Francesa como exemplo de uma revolução falhada, que “começara com aspirações democráticas e liberais clássicas”, mas cede ao populismo radical e acaba num nacionalismo autoritário, fazendo com que, num intervalo de um século e meio, a França tenha sido “governada por três monarquias, dois impérios, cinco repúblicas, uma comuna socialista e um regime quase fascista”.

Perante mudanças radicais, é frequente surgirem reacções adversas, além do confronto de visões divergentes acerca da ideia de modernidade. Um padrão que se repete ao longo da História, e que o autor ilustra bem, é a alternância entre a disrupção e a nostalgia por uma suposta era de grandeza perdida, nascida do ressentimento das populações que se sentem prejudicadas, mesmo quando o progresso melhora as condições de vida da maioria da Humanidade. Não são invulgares as subversões da ordem política anterior, “transformada por novas linhas divisórias”, nem contra-revoluções que recorrem a teorias da conspiração.
Sendo o liberalismo identificado como a força motriz da modernização política, nota-se pontualmente uma tendência do autor para simplificar as múltiplas razões possíveis para a resistência às mudanças daí decorrentes: “as pessoas não conseguiram interiorizar os valores do liberalismo porque lhes foi dado pouco tempo para os compreenderem”. Todavia, em geral, Zakaria mostra-se ciente da complexidade dos ciclos de progresso e retrocesso, conseguindo motivar-nos a acompanhá-lo numa viagem pela História de países que reconfiguraram o mundo, durante a qual salienta que aqueles que entram numa nova era com vantagem em poderio não se tornam necessariamente as potências dominantes: são os que melhor se adaptam que prosperam num novo tempo.
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