Depois de ter celebrado o Dia Mundial da Língua Portuguesa (5 Maio) com várias escolas da cidade de Lisboa, o festival 5L prossegue este fim-de-semana (9, 10 e 11 de Maio) festejando a Língua, a Literatura, os Livros, as Livrarias e a Leitura, propondo explorar a relação entre cultura e inovação – lugar de utopia e distopia. Colocámos 5 questões a Edite Guimarães, Chefe de Divisão da Rede de Bibliotecas de Lisboa, que fez um balanço das edições anteriores, antecipou edições futuras e apresentou algumas recomendações de um programa onde cabem concertos, conversas, espectáculos, exposições, oficinas e palestras.

Depois de, na primeira edição, ter ocupado teatros, cinemas, livrarias e algumas ruas e praças da cidade de Lisboa, o 5L muda agora de ares para o “Beato Innovation District”, local que será a base da programação dos dias 9, 10 e 11 de Maio. A que se deveu esta mudança na filosofia geográfica do festival?
Ao longo das primeiras quatro edições, o Festival Lisboa 5L registou duas alterações na sua matriz geográfica de implementação na cidade, bem como no fio condutor da sua programação. Nas primeiras três edições do Festival, a ideia passou por concentrar no Teatro São Luiz a maioria do programa, com a restante programação espalhada por espaços parceiros: como livrarias, outros teatros, bibliotecas, museus e hotéis. O programa foi desenhado numa matriz multidisciplinar, através da celebração dos 5L que integram o nome do festival: Língua, Livros, Literatura, Leitura e Livrarias. Em 2023, na sua 4.ª edição, o Festival apresentou, pela primeira vez, um tema: Centro e Periferias. Mudámos de território, centrámos a programação na Biblioteca Palácio Galveias e distribuímos atividades pelas Bibliotecas de Alcântara, Camões, Marvila e pelas estações intermodais de transportes: Rossio: Terreiro de Paço e Cais do Sodré. Na edição deste ano, decidimos concentrar toda a programação num só espaço geográfico, que pudesse ser percorrido a pé e que possibilitasse uma experiência mais completa do programa, pois percebemos que espalhar a programação por vários espaços da cidade, revelou-se um desafio para quem queria assistir à programação dispersa por vários locais.
Que balanço poderá ser feito das quatro anteriores edições do festival, e de que forma poderemos olhar para a edição deste ano: uma aposta na continuidade ou o desejo de uma viragem?
As primeiras quatro edições foram incríveis e o balanço que fazemos é muito positivo. Nesse balanço ficou claro que pretendemos consolidar o festival mantendo uma programação eclética e bem articulada entre si. Faz-nos sentido definir, a cada edição, um tema concreto, que cruze a Cultura com outra dimensão estruturante da sociedade, e que esse tema seja explorado através das dimensões da Língua e da Literatura. Ficou, igualmente, claro que queremos reforçar o papel das Bibliotecas de Lisboa enquanto intervenientes activos na construção do programa.
É uma edição claramente política, onde se olha para os desafios colocados pela Inteligência Artificial ou para as formas de censura que ameaçam as democracias. A Literatura continua a ser um meio primordial para o combate à desinformação e um estímulo para o pensamento crítico?
A edição deste ano reflecte o que acredito ser também o papel das bibliotecas públicas: o de contribuir activamente para a reflexão e discussão informadas e esclarecidas. Isto só pode acontecer se colocarmos em diálogo visões e opiniões divergentes, num ambiente de respeito, fundamental para a garantia e promoção de liberdade de expressão e acesso à informação, conforme estabelecido na Constituição da República Portuguesa e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Este diálogo entre visões não concordantes é transversal a todas as mesas de debates, entre as quais estão as relacionadas com a Inteligência Artificial. Considero que a Literatura é fundamental para promover o pensamento crítico, na medida em que, enquanto disciplina de criação artística, ocupará sempre um papel de criação de novos olhares, formas de pensar e viver, sejam mundos, paisagens ou personagem reais, imaginados ou até misturas difusas entre ambos.
Carlos Vaz Marques, Catarina Magro e Jorge Amorim são os curadores desta edição. Como chegaram a estes nomes e de que forma descobrimos a sua assinatura no programa deste ano?
O tema escolhido para a edição de 2025 foi o cruzamento entre a cultura e a inovação, dois pilares essenciais para a governação das cidades, explorado através do olhar da Língua e da Literatura. Escolhido o tema, sentimos necessidade de adicionar à equipa das Bibliotecas de Lisboa o valor e o conhecimento de quem, diariamente, estuda, analisa, reflecte e publica. E foi nesse pressuposto que identificámos três pessoas que em comum têm a paixão pelos livros, pela divulgação e partilha do conhecimento. Assim, para connosco desenharem o programa da edição de 2025 temos: Carlos Vaz Marques (Literatura), Catarina Magro (Língua) e Jorge Amorim (Ciência Cognitiva e Inteligência Artificial). Este foi um trabalho em equipa, com as Bibliotecas de Lisboa, que se desenvolveu ao longo de meses e cujo resultado é um programa coeso, eclético, com propostas programáticas bem articuladas entre si, pois fazem parte de um todo pensado com muita dedicação, atenção e cuidado.
Para um leitor indeciso em fazer a viagem à capital, que destaques apresentaria como forma de persuasão?
Começaria por sublinhar que este Festival vai ser uma oportunidade para conhecer uma unidade fabril criada em 1897, que preserva a memória do que outrora foi a Manutenção Militar. Quanto à programação destacaria: a palestra sobre Desinformação, censura de livros e o fim da democracia; a conversa Inteligência artificial na escrita e educação – pontes para o futuro; a conversa entre Amin Maalouf e José Mário Silva; a conversa entre Robert Berwick e Pilar Barbosa; a conversa entre Juan Villoro e José Alberto Carvalho e a conversa entre Paul Lynch e Isabel Lucas. Destaco, ainda, os concertos Inatel: Lisbon Poetry Orchestra e Ana Lua Caiano, a exposição da Fundação Santander Todas as coisas são mesa para os pensamentos e a festa de abertura com um dj set de Nuno Varela e Rainer Brito.
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Toda a programação do 5L está disponível em https://lisboa5l.pt/
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