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Entrevista, André Andraus, Obra Completa de Jim Morrison, Rei Lagarto, Assírio & Alvim, Publicações a Ferro e Aço, Grupo Narrativa, Deus Me Livro
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Entrevista: André Andraus sobre a “Obra Completa de Jim Morrison”

Por Pedro Miguel Silva · Em 23/03/2022

Até há bem pouco tempo, os fãs de Jim Morrison (e dos The Doors) que quisessem conhecer, em livro, as letras de canções e outros textos assinados por Mr. Morrisson, tinham de visitar o mundo encantado dos alfarrabistas, em busca de exemplares do Rei Lagarto – colecção editada em Portugal pela Assírio & Alvim que, por esta altura, merecia já uma reedição cuidada. Uma missão literária, quase arqueológica, que deixou de ser necessária a partir de 2021.

Realizada em colaboração com os herdeiros de Jim Morrison e inspirada numa lista chamada “Plano para Livro”, descoberta postumamente entre os apontamentos de Morrison, a “Obra Completa de Jim Morrison” estará algures entre a edição de referência e um notável artigo de coleccionador. Uma edição em capa dura que inclui, entre várias preciosidades, a obra até hoje não publicada de Jim Morrison, com uma vasta selecção de apontamentos dos seus 28 diários, transcrições e fotografias raras e notas de produção da sua última gravação de poesia – gravada a 8 de Dezembro de 1970 -, o diário de Paris reproduzido na totalidade (provavelmente o seu derradeiro diário), excertos dos apontamentos do julgamento de Miami de 1970, o guião e paleta de cores do filme “HWY” – nunca lançado – ou letras completas publicadas e não publicadas.

Em Portugal, a “Obra Completa de Jim Morrison” foi lançada com o selo das Publicações a Ferro e Aço, chancela do Grupo Narrativa. Uma edição indispensável para os fãs do futuro e, sobretudo, para a colecção dos apreciadores da poesia e da música de Jim Morrison e The Doors. A propósito deste lançamento, o Deus Me Livro esteve à conversa com André Andraus, editor executivo do Grupo Narrativa – e fã confesso de Jim Morrison e dos The Doors.

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“…uma estrela de rock dos anos sessenta de excelente aparência, com uma voz penetrante e presença em palco ora sensual e assustadora, ora ameaçadora e sedutora (personificação viva daquele anjo negro ferido que sequestra os sonhos nocturnos de tantas miúdas pós-pubescentes)”. As palavras são de Tom Robbins no prefácio da “Obra Completa de Jim Morrison”. Será esta a melhor forma de apresentar aos leitores – passados e futuros – Mr. James Douglas Morrison?

Penso que a melhor forma de apresentar James Douglas Morrison aos leitores é através da publicação da sua obra completa. Esse será talvez o melhor cartão de visita. Estou convicto de que o prefaciador estava também a exercer a sua veia poética, o que é perfeitamente natural. Em todo o caso, reflectiu fielmente a imagem que grande parte dos fãs retêm de Jim Morrison.

A figura de Morrison foi sempre marcada por bastante polémica. No filme “Quase Famosos”, por exemplo, realizado por Cameron Crowe, descobrimos uma farpa lançada por Lester Banks, um crítico musical com decididamente poucos amigos: “Jim Morrison is a drunken buffoon posing as a poet. Give me the Guess Who. They have the courage to BE drunken buffoons, which MAKES them poetic”. Por detrás da polémica, há ou não um grande poeta?

Recordo-me bem dessa fala no filme e de ter discordado em absoluto com o personagem. Mais uma vez, acredito que reflectia a opinião de muitos, que não seriam propriamente os fãs de Jim Morrison ou dos The Doors. Sim, sem dúvida que por detrás da polémica há um grande poeta. Aliás, foi a polémica que escondeu o poeta durante todos estes anos.

Curiosamente, ao contrário da extrovertida imagem pública, Morrison era um escritor bastante tímido, que fez algumas edições de autor que até a própria banda e amigos próximos pareciam desconhecer. Um pouco como se a música e a literatura não pudessem fazer parte do mesmo plano.

Talvez na sua mente – e na sua época – não houvesse lugar para ambas as coisas. A música seria talvez o caminho para a literatura, ou apenas algo que apareceu pelo caminho. E isso não é de admirar, pois a timidez tem destas coisas. Mas não foi bem assim que se passou. Jim Morrison apenas não contou a ninguém o que estava a planear fazer, mas depois de o ter feito teve todo o gosto em oferecer exemplares a todos os que o rodeavam. Apenas aguardou para ver o sonho tornar-se realidade, para depois o partilhar com todos os outros. Pelo menos foi esta a ideia que alguns amigos fizeram passar.

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O Grupo Narrativa não deixou passar muito tempo e agarrou, desde muito cedo, os direitos da publicação da “Obra Completa de Jim Morrison”. Foi, de certa forma, também uma decisão sentimental?

Mesmo assim, soubemos por acaso. Meses antes de a obra sair lá fora fomos abordados por um agente literário e, ao consultar o catálogo deste, lá estava o livro. Claro que não ficámos à espera e depressa agarrámos a oportunidade. Quer vendesse ou não, tínhamos de ser nós a publicá-la, por isso, sim, foi totalmente uma decisão sentimental. Isso e o facto de publicarmos poesia e biografias de músicos de rock. No entanto, gostaria de acrescentar que, ao contrário do que pode ter transparecido para alguns, não publicámos esta obra por termos beneficiado da distracção de outros editores; pelo contrário, foi devido ao facto de sermos fãs e de estarmos atentos.

A edição portuguesa mostra-se bastante fiel à original, tendo-se optado por uma sempre bem-vinda capa dura. Há páginas manuscritas de cadernos, apontamentos privados, o guião de filmagem do filme HWY, muitas fotografias até hoje inéditas, letras de canções e até as três obras que Jim lançou em edição de autor – As Criaturas Novas, Os Mestres e Uma Oração Americana. Esta é – ou será – a edição definitiva da obra de Jim Morrison? Ou, como o próprio colocaria: This is the end?

Posso dizer que esta é, sem sombra de dúvida, a edição definitiva da obra de Jim Morrison. E mesmo que não seja o fim, mesmo que um dia se encontre material inédito, esta irá permanecer como a Obra Completa. The End!

Entrevista, André Andraus, Obra Completa de Jim Morrison, Rei Lagarto, Assírio & Alvim, Publicações a Ferro e Aço, Grupo Narrativa, Deus Me LivroSofia Copolla viu-se, há alguns anos, completamente “Lost in Translation”, um cenário que aqui era bem possível. Vasco Amaral parece ter dado conta do recado, não se deixando apanhar pelos xamãs ou chamuscar-se nos muitos círculos de fogo que encontrou pelo caminho.

Completamente. Esta foi uma tradução bastante difícil, tendo em conta o carácter experimentalista da poesia de Jim Morrison e o facto de o autor não ter tido a oportunidade de reunir grande parte da sua obra de acordo com o seu próprio critério – tal como fez nas poucas edições que publicou em vida. O editor, Frank Lisciandro, teve de tomar decisões difíceis ao compilar os textos e, para isso – e nas suas palavras – teve de confiar no poeta. No caso da tradução, tudo culminou na questão da interpretação, como seria de esperar. Esse foi o maior desafio. No entanto, o Vasco Amaral foi o homem certo para este trabalho e não foi escolhido por acaso. Precisávamos de alguém que fosse, em simultâneo, um excelente tradutor de poesia e fã de Jim Morrison e da sua obra. Não só deu conta do recado em tempo recorde, como elevou a tradução da poesia de Jim Morrison a um nível que ainda não tinha sido feito por cá.

Algumas figuras lendárias da música têm tido, em certos momentos da história, honras de recuperação, seja em longas-metragens, séries televisivas ou reedições discográficas. Depois de uma adaptação bastante fraquinha ao grande ecrã por Oliver Stone, que fez de Morrison um quase Deus e se focou mais no circo que rodeou a estrela, chegará o tempo de o mostrar como uma figura mais terrena? Ou, pelo menos, de lhe fazer alguma justiça sem traços de caricatura?

Felizmente, isso já aconteceu. Esta edição (Obra Completa de Jim Morrison) deu-lhe essa honra e fez-lhe justiça como poeta e como pessoa. Acredito que todos aqueles que folhearem o livro vão perceber isso, e penso que esta foi uma derradeira tentativa de redimir o poeta/vocalista, ao mesmo tempo que se cumpria algo que todos esperávamos há muito: a compilação completa da sua obra e dos seus escritos. Todavia, todos sabemos que esse circo existiu de facto, mas não da forma como Oliver Stone pretendeu mostrar.

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Pedro Miguel Silva

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