Crítico de arte, pintor, escritor inglês, ícone da contracultura e um dos pensadores mais influentes dos nossos dias. Deve andar perto disto aquilo que John Berger tem escrito no seu cartão-de-visita, ele que é uma persona bem grata na Antígona que, de uma assentada, publicou dois dos seus mais conhecidos trabalhos: “Modos de Ver”, de que falaremos em breve, e “Entretanto” (Antígona, 2018), um curtíssimo ensaio em que compara o neoliberalismo contemporâneo a uma prisão, guardada e vigiada pela alienação e o consumo.
Berger vai ao ponto de comparar a sociedade moderna a um gulag reinventado, onde milhões trabalham sendo reduzidos ao “estatuto de criminosos” – ou, como caracteriza Berger aponta o dedo ao neoliberalismo, uma equação que terminou com um resultado do género “trabalhador = criminoso encoberto”.
Com referências a Foucault e sobretudo ao pensamento luminoso de Zygmunt Bauman, Berger discorre sobre as diferenças entre capitalismo industrial e capitalismo financeiro, considerando o planeta como uma prisão global dominada pelo sistema financeiro enraizado nos governos, onde a prioridade suprema é só uma: “Criar condições favoráveis à confiança dos investidores”.
Berger centra-se igualmente naquilo que considera ser a tirania do mercado, assente na extra territorialidade e sustentada pelo ciberespaço, considerando que a verdadeira prisão é aquela que se encontra do lado de fora dos seus muros, e que a liberdade está num lugar improvável: “A liberdade está lentamente a ser descoberta, não no exterior da prisão, mas nas suas profundezas”.
Uma crítica ao fanatismo do lucro e a um mundo cruel e injusto, numa edição que inclui ainda um posfácio de Júlio Henriques que é quase uma biografia comentada do autor.
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