Em 2018, durante os primeiros meses do seu filho Howard, Oliver Jeffers escreveu “Aqui Estamos Nós” – com o subtítulo Apontamentos para viver no planeta Terra -, a quem dirigia então uma dedicatória a ser lida depois de este aprender o ABC: “Procurava uma maneira de te explicar o sentido de tudo isto”. Um livro no qual, apesar de abrir já a porta para a ausência futura, Jeffers passava a ideia de que Howard nunca estaria sozinho neste imenso planeta.
A verdade é que a coisa pegou e, de repente, Aqui Estamos Nós veio a tornar-se uma série, da qual fazem parte os álbuns “Livro dos Números”, “Livro dos Animais”, “O Que Vamos Construir” e, mais recentemente, este “Enquanto Isso, na Terra” (Orfeu Negro, 2023), que chega impresso com dois subtítulos na capa, entre estar “à procura do nosso lugar pelo tempo e espaço” e ter “uma visão cósmica do conflito”.
A viagem, agora já com a descendência de Jeffers estendida a duas crianças, faz-se a bordo de um muito estiloso carro, provavelmente emprestado por um dos 007, capaz de se transformar numa nave espacial. Tudo para tentar explicar coisas tão exóticas como a história e a geografia da Irlanda do Norte ou tentar perceber por que razão os humanos têm lutado, desde que assentaram pés na terra, pelo espaço e o território. Pelo meio, entre distâncias quilométricas e de calendário consideráveis, há referências a episódios como a II Guerra Mundial, a colonização de África ou a construção da Grande Muralha da China.
É uma História contada às arrecuas, vista com os olhos postos nos espelhos retrovisores, e que nos mostra toda a beleza do sistema solar – a sua quietude e beleza – como contraponto à efervescência e tirania humanas. Para o final está guardada uma citação de Neil Armstrong, que celebra o regresso a casa e nos desafia a cuidar melhor deste planeta já não tão azul como dantes: “Para onde quer que se viaje, é sempre bom voltar a casa”. Cuidemos então desta casa comum.
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