A entrada de Peter May nas livrarias nacionais deu-se com “A Casa Negra” e “Homem do Passado”, os dois primeiros livros da chamada Trilogia de Lewis – The Lewis Trilogy no original – mas, apesar de “The Chess Men” ter sido publicado há já algum tempo, a Marcador optou por publicar dois outros livros do autor escocês fora do universo Lewis: “A Ilha de Entrada” e, mais recentemente, “Em Fuga” (Marcador, 2017), este último um desvio ao reconfortante ambiente espectral, desolado e montanhoso dos anteriores livros.
Estamos em 1965. Cinco amigos, todos eles em plena adolescência, fogem de Glasgow para Londres, com o sonho de se transformarem numa banda musical de sucesso, escapando a uma vida previsível e sem graça. O quinteto não encontrará, porém, mais do que um enganoso vislumbre da fama, e ao fim de menos de um ano três deles regressam à sua cidade natal claramente transformados, preparados para aceitar a inevitabilidade de uma vida sem grandes altos. Cinquenta anos mais tarde, um homicídio obriga-os a regressar a Londres para reviver o momento a que tentaram sem sucesso escapar durante cinco décadas.
May alterna entre o romance e o policial, mas este é claramente o seu livro menos conseguido e pouco dado a grandes calafrios. Há sentimentalismo em excesso e, como policial, está longe de conter uma trama ao nível do que May já brindou os leitores. Salva-se por um triz o retrato que faz de uma Londres mergulhada em ácido e todo o tipo de experimentações, mas que é insuficiente para um livro que parece ter ficado preso à ideia de que nunca é tarde de mais para que a vida nos surpreenda.
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