“Dr. B.” (Porto Editora, 2021), romance de estreia do curador artístico sueco Daniel Birnbaum, é uma obra de ficção baseada na história de vida de um elemento da família do autor – o avô paterno -, que decorre durante a Segunda Guerra Mundial na Suécia. Um país que, ao contrário da Dinamarca e da Noruega, se manteve neutro no conflito, transformando-se num palco estratégico por onde passaram agentes secretos, exilados, diplomatas e expatriados.
Tudo começa com a descoberta de uma caixa de papelão: “A caixa estava em péssimo estado. Levei-a para o meu apartamento há alguns anos. Isto depois do meu pai falecer, e porque a minha mãe começou a esvaziar a casa onde eu e as minhas irmãs passámos a infância. Na tampa da caixa estava escrito à mão :`papéis deixados pelo Imm`. Imm era o que os meus pais chamavam ao meu avô paterno. (…) Mergulhei na leitura das cartas e dos artigos, das transcrições de julgamentos e relatórios de inquéritos policiais. Comecei a perceber os contornos de uma intriga que era tudo menos simples. Immanuel, o meu avô paterno, veio para a Suécia como refugiado judeu (…), Era jornalista. (…)”.
Dentro desta caixa está arrumada a vida do avô, repleta de dramas inesperados e de uma intensa intriga no mundo da publicação de livros e da espionagem internacional. Daniel Birnbaum refere que quis contar uma história e não culpar ou ilibar o avô, que esteve preso, em prisões suecas, sob a acusação de ter colaborado com os nazis.
Em “Dr. B”, o leitor encontra uma série de personagens reais mas lendárias, que chegaram à Suécia nesse período – Bertold Brecht, Willy Brandt, Peter Weiss -, ou o exilado editor alemão Gottfried Bermann Fischer, falecido em 1995 aos 99 anos de idade, dono da mundialmente famosa S. Fischer Verlag. O romance permite-nos também conhecer Immanuel Birnbaum, designado na família como Imm, refugiado – um estatuto que, na obra, surge repleto de ambivalências e ambiguidades -, que começa a trabalhar na editora exilada de Bermann Fischer, usando o pseudónimo de Dr. B e envolvendo-se em misteriosas e perigosas actividades.
Enquanto assistente editorial de Bermann Fischer, Immanuel Birnbaum ajuda espiões britânicos a espalhar propaganda na Alemanha. Surpreendentemente, uma carta escrita por Imm em tinta invisível – algo real mas muito mal explicado pelo próprio à policia sueca -, expõe também os planos de um grupo dissidente local para sabotar um porto marítimo, o que manterá o leitor na dúvida sobre o seu real posicionamento.
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