Alan Moore é um daqueles autores que parecem recusar facilitismos. Basta olhar para títulos como “Watchmen”, “A Liga de Cavalheiros Extraordinários” ou “V de Vingança” para perceber que, para haver história, terá de haver um enredo tão trabalhado quanto um tapete de arraiolos.
“Do Inferno” (Devir, 2017) é mais um exemplo da vertigem exploratória de Moore que, a partir de uma sugestão apresentada pelo falecido Stephen Knight no livro “Jack The Ripper: The Final Solution”, de 1977, recria a história de Jack O Estripador, apresentando-a como o resultado de um encobrimento levado a cabo pelas mais altas instituições britânicas.
O livro resulta de uma investigação histórica meticulosa e de uma boa dose de especulação, transformado numa ficção histórica onde a violência abunda, a maçonaria espreita, a loucura se instala, a medicina tortura e experimenta e a arquitectura se revela a espaços, num passeio por uma Londres em mudança entre o obscurantismo Vitoriano e o nascimento do século XX.
As ilustrações a preto e branco, acompanhadas por balões de texto com lettering de época, reflectem na perfeição o clima sufocante de uma cidade onde a loucura se instalava nas ruas, à vista desarmada, ou confinada a instituições psiquiátricas onde quem lá entrasse saía – se o conseguisse -transformado. E, claro, a alma daquele que muitos consideram ter sido o homem mais infame nos anais do assassínio.
Muito úteis são os dois apêndices finais, que dão conta da aturada investigação de Moore, incluindo fontes de informação, referências literárias e factos históricos, que muito ajudam a ler o livro nas entrelinhas. Um dos grandes lançamentos de 2017 no universo da BD.
“Do Inferno” chegou ao grande ecrã pela Tentieth Century Fox, numa adaptação que conta com Johnny Depp e Heather Graham nos principais papéis.
Sem Comentários