Augusto, o Fundador. Tibério, o Tirano. Nero, o Animador. Vespasiano, o Plebeu. Trajano, o Melhor Príncipe. Adriano, o Grego. Marco Aurélio, o Filósofo. Sétimo Severo, o Africano. Diocleciano, o Grande Divisor. Constantino, o Cristão. Foram estes os “Dez Césares” (Bertrand Editora, 2021) que saltaram do Palatino para o mundo, e para os quais Barry Strauss criou, em dois volumes, pequenas biografias.
Defendendo que por detrás de uma extravagante retórica se escondia um coração dado ao pragmatismo, Barry Strauss faz uma radiografia de meio corpo a cada um destes Césares, afirmando que, independentemente do sucesso de cada um “todos os imperadores quiseram exercer controlo político no seu território, projectar o político militar no estrangeiro, presidir à prosperidade, desenvolver a cidade de Roma e desfrutar de uma boa relação com o divino”, achando que a cama seria também o melhor sítio para a despedida terrena e a designação de quem lhes iria suceder.
Numa obra em dois volumes, onde encontramos mapas, árvores genealógicas e fontes bibliográficas que convidam o leitor a outras e mais extensas leituras, Barry Strauss apresenta cada um dos Dez Césares, ao estilo de uma biografia condensada: Augusto, um ícone para as futuras gerações – e imperadores -, que “pôs fim a um século de revolução, derrubou a República e substituiu-a pelo império do qual foi o primeiro imperador”; Tibério, o Primeiro Cidadão dado à gestão e ao pragmatismo, “um soldado profissional, conquistador e pacificador”, que aos olhos do Senado começou como um amigo do peito e terminou como um absoluto tirano; Nero, que acabou por ter o seu reinado definido, real e simbolicamente, pelo Grande Incêndio de Roma, dando azo à criação de vários mitos urbanos – como o de que estaria a tocar lira enquanto a cidade ardia. Viveu num paradoxo que o situou entre o estatuto de aristocrata louco e o de populista brilhante, entre a crueldade e a benfeitoria, tendo arrasado a velha elite setentrional e desbravado o terreno para uma nova classe dominante vinda das províncias; Vespasiano, “lento, seguro e inabalável”, o primeiro homem do povo que se sentou no Paladino; Trajano, que se fazia “valer das emoções fortes sempre que elas o colocassem no centro das atenções”. Apesar de nenhuma biografia lhe ter sobrevivido, ficou conhecido como “um forasteiro que fez pela vida, um general político sagaz que soube sobreviver numa tirania e um líder que, discretamente, se tornou indispensável”.
Adriano, que nunca escondeu “o seu amor pela cultura grega e a sua política de elevar a parte oriental do império que falava grego”. Fez um esforço para preservar a paz e manifestou-se contra a expansão imperial, sendo lembrado pelas piores razões pelos judeus – cuja cultura tentou destruir; Marco Aurélio, que representa a vitória “sobre as forças da desordem e das trevas dentro de cada alma”. Terá sido o mais próximo de um filósofo-rei de que há registo e, mesmo tendo de enfrentar um pouco a contragosto uma série de guerras externas, deixou uma obra literária que continua ainda hoje a ser lida, e que revela um compromisso apontado à justiça e à bondade; Sétimo Severo, “um homem egoísta, rude e bruto”, mas também “astuto e fluente”, que transformou o governo quase num quartel militar; Diocleciano, um militar de carreira sem raízes aristocratas, que era oriundo de um meio pobre dos Balcãs. Foi o primeiro a abdicar por escolha própria, passando então a viver como cidadão comum. Foi ele a pôr fim à crise que quase destruiu Roma e a separar tudo como pôde: Oriente/Ocidente, romanos/bárbaros, soldados/civis, pagãos/cristãos; e, por fim, Constantino, “militar, estadista e construtor; era implacável e determinado, como a maioria dos imperadores bem-sucedidos; era ambiciosos, obstinado pelo poder, brilhante, subtil, espiritual e violento, era guerreiro, administrador, versado em relações públicas e visionário”. Segundo Strauss, a sua vida terá sido matéria para uma das narrativas de maior sucesso da história: “Talvez isso tenha sido a coisa mais romana de todas”.
Barry Strauss é especialista em história militar do mundo antigo, consultor, historiador naval e militar, editor da Turning Points in Ancient History (Princeton University Press) e professor na Universidade Cornell. É autor de vários bestsellers, sendo “Dez Césares” o seu primeiro livro publicado em Portugal.
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