• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Curtas da Estante, Deus Me Livro, Gradiva, Correspondência - Eduardo Lourenço e Jorge de Sena
Mil Folhas 0

Curtas da Estante: “Correspondência – Eduardo Lourenço e Jorge de Sena”

Por Deus Me Livro · Em 29/05/2023

Curtas da Estante é uma rubrica de divulgação do Deus Me Livro.

Sobre o livro

«O que não hesito chamar amizade, ainda que apenas epistolar, destes dois camaradas de letras iniciou-se, creio, com o envio, por Jorge de Sena, do inquérito sobre André Gide que se destinava e foi publicado em Unicórnio, em Maio de 1951. Quando ou como se conheceram pessoalmente não sei exactamente, mas sei que se dedicaram amizade, respeito e admiração mútua por cerca de 28 anos. Para mim, Eduardo Lourenço começou por ser o Faria, ainda meu contemporâneo na Faculdade de Letras de Coimbra, finalista quando eu, tardiamente caloira, começava a minha via-sacra de aluna voluntária, enquanto ele se desenhava já como diferente dos demais.»

Mécia de Sena, Acerca desta correspondência

Sobre os autores

Ensaísta português (23 de Maio de 1923, em S. Pedro de Rio Seco, Almeida – Lisboa, 1 de Dezembro de 2020), formado em Ciências Histórico-Filosóficas pela Universidade de Coimbra, onde foi professor entre 1947 e 1953, leccionou depois em várias universidades, como a da Baía, no Brasil, e nas Universidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, Grenoble e Nice. Fixando residência em Vence, leccionou, até à sua jubilação, na Universidade de Nice.

Tendo marcado durante cinquenta anos, com especial ressonância no pós-25 de Abril, o pensamento português, a voz de Eduardo Lourenço exerce um profundo e consensual fascínio sobre a intelectualidade portuguesa, surpreendendo pela “capacidade de ser portador de um olhar sempre diferente e inquietante sobre os problemas de que se ocupa”, espantando pela “pluralidade de interesses, a imensidão de uma cultura que não se entrincheira em redutos de erudição, o jogo ilimitado das referências” (cf. COELHO, Eduardo Prado – “Eduardo Lourenço: Um Rio Luminoso”, in A Mecânica dos Fluídos, Lisboa, INCM, 1984, p. 280).

Próximo da geração neo-realista, à qual nunca deixaria de dedicar um sério trabalho de reflexão, voltado quer para a especificidade da sua poética (Sentido e Forma da Poesia Neo-Realista, Lisboa, 1968), quer para o estudo dos sobreviventes dessa geração (cf. por exemplo, os vários estudos sobre Vergílio Ferreira, coligidos em O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994), quer ainda pelas análises de conjunto sobre o fenómeno da afirmação na literatura contemporânea dessa geração que baptizou como “geração da utopia” (cf. ibi., ensaios como “A Ficção dos Anos 40”), pelo seu espírito de isenção e de abertura, tornou-se, após a publicação, em 1949, de Heterodoxia I, uma figura incómoda face às duas forças ideológicas em que se dividia o país: o catolicismo conivente com o regime salazarista e o marxismo, ao defender uma noção de heterodoxia que equivale à aceitação da pluralidade de “ortodoxias”.

No início dos anos cinquenta, o nome de Eduardo Lourenço surge associado ao projecto Árvore, em cujo número inaugural publicou o ensaio “Esfinge ou a Poesia”, onde apresenta uma conceção de poesia como Esfinge diante da qual o poeta procura “danadamente uma autêntica face de homem, uma existência em busca de uma essência”, definindo-a como “a resolução que damos à história, aos encontros, às promessas de cada vez que consentimos descer das palavras às dificuldades dos atos. Ou subimos dos atos à corola mágica das palavras com que os arrancamos à certa desolação do tempo e da morte.” (“Esfinge ou a Poesia”). Esta função gnósica atribuída à palavra poética determinará a defesa, nos vários estudos críticos e literários publicados ao logo da década de 60, alguns deles na revista O Tempo e o Modo, de que a crítica só faz sentido “esposando simultaneamente a vida e a morte que na sucessão das obras se configura e lendo uma na luz da outra, sem pretender jamais que está em seu poder outra coisa que dizer com atraso, mas o mais claramente que lhe é possível, o discurso inexpresso da Obra”. (O Tempo e o Modo, Maio-Junho de 1966, ensaio coligido in O Canto do Signo, Lisboa, Presença, 1994, p. 46). Este respeito pelo caráter trágico da crítica, conjugado com uma invulgar erudição, capaz de colocar em diálogo tradições literárias e culturais diversas, com a capacidade de, sem trair a textualidade, perseguir a errância (ibi., p. 68) do texto, da sua produção até ao imaginário, individual e coletivo, que simultaneamente reflete e constrói, elevou-o, desde a publicação, em 1957, do ensaio O Desespero Humanista de Miguel Torga até ao recente O Canto do Signo. Existência e Literatura, como orador e como escritor, a um dos expoentes máximos do ensaísmo literário e cultural contemporâneo, estatuto unanimemente reconhecido, por exemplo, na atribuição de vários prémios nacionais e internacionais (Prémio PEN Clube, 1983; Prémio Europeu de Ensaio Charles Veillon, 1988; Prémio Camões e Prémio D. Dinis, 1996; Prémio Virgílio Ferreira, pela Universidade de Évora, 2000; condecoração francesa da Legião de Honra, 2002; Prémio Extremadura a la Creación, 2006; Prémio Extremadura para a Criação, 2006; Premio Fernando Pessoa, 2011).

Curtas da Estante, Deus Me Livro, Gradiva, Correspondência - Eduardo Lourenço e Jorge de Sena

Em complementaridade com o trabalho de crítica literária, o ensaísmo de Eduardo Lourenço revela uma particular preocupação na análise das autognoses coletivas que a cultura literária e artística espelham, reflexão que, desde “O Labirinto da Saudade” até “Poesia e Metafísica”, examinando “as imagens que de nós mesmos temos forjado”, culminaria com uma interrogação sobre o destino português, não só no modo como ele é percecionado nas obras e no nome de alguns dos seus vultos mais representativos (Camões, Antero e, sobretudo, Pessoa), mas, de forma mais abrangente, em volumes como “Portugal Como Destino Seguido de Mitologia da Saudade” (1999), sobre o modo como esse destino é miticamente sobredeterminado. Considerando, do exterior (português fora de Portugal), o destino português, Eduardo Lourenço consegue, neste último volume, fazer concorrer todo o seu saber (histórico, filosófico, literário), para formular, no fim de século, sem qualquer intuito doutrinário, uma imagem imparcial do ser português, na sua singularidade e universalidade, espelho, onde, observando-se, pode conhecer-se e aceitar-se “tal como foi e é, apenas um povo entre os povos. Que deu a volta ao mundo para tomar a medida da sua maravilhosa imperfeição.” (Portugal Como Destino Seguido de Mitologia da Saudade, Lisboa, Gradiva, 1999, p. 83).

Jorge de Sena nasceu em Lisboa a 2 de Novembro de 1919 e morreu em Santa Bárbara, na Califórnia, a 4 de Junho de 1978. Licenciado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia do Porto, parte para o exílio no Brasil em 1959 e aí doutora-se em Letras e torna-se regente das cadeiras de Teoria da Literatura e de Literatura Portuguesa. Muda-se para os Estados Unidos da América em 1965, lecionando na Universidade de Wisconsin e, anos depois, na Universidade da Califórnia. Poeta, ficcionista, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é considerado um dos mais relevantes escritores de língua portuguesa do século XX, autor de títulos como “Metamorfoses” (1963), “Os Grão-Capitães” (1976), “O Físico Prodigioso” (1977) e “Sinais de Fogo” (1979), este último considerado a sua obra-prima.

Editora: Gradiva

Correspondência - Eduardo Lourenço e Jorge de SenaCurtas da EstanteDeus Me LivroGradiva

Deus Me Livro

Pode Gostar de

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote, Mil Folhas

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote,

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

    13/05/2025
  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto