• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean Phillips
Mil Folhas 0

Criminal: a morte fica-vos tão bem | Ed Brubaker e Sean Phillips

Por Pedro Miguel Silva · Em 13/04/2020

Fruto da parceria entre Ed Brubaker e Sean Phillips, dupla que já nos havia oferecido a muito Chandleriana novela gráfica The Fade Out e a voluptuosa série Fatale, Criminal é um mergulho da prancha mais alta numa piscina de águas turvas, onde nadam o crime e as drogas e que revisita, sem perder o pé ou a noção da realidade, todos os clichés de um género maior.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean Phillips

Uma série que começou a ser originalmente publicada em 2006 e que, nessa primeira fase, se prolongou por 10 edições, que haveriam de ser publicadas em duas edições paperback: Coward (#1-5) e Lawless (#6-10). A segunda série começou em 2008 e decorreu durante sete edições, compiladas nos volumes “The Dead and the Dying” (1-3) e “”Bad Night” (4-7). Uma terceira série apareceu entre 2009 e 2010, em cinco números reunidos no volume “The Sinners”, seguindo-se uma quarta série em 2011, com quatro números reunidos em “The Last of the Innocent”. Já em 2017, Brubaker e Phillips publicaram “My Heroes Have Always Been Junkies” como história única, que apesar de não contar para as estatísticas como o volume 8 de Criminal passou também a fazer parte do seu legado. Já no ano passado, a dupla regressou com uma nova série Criminal, agora na Image Comics, que decorre na mesma Center City e partilha uma história criminal que vai sendo passada de geração em geração.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean PhillipsA boa notícia chegou a Portugal pela mão da G. Floy, editora que já havia publicado The Fade Out e Fatale (em cinco volumes) e que, por estes dias, nos está a oferecer – sempre em capa dura – todo este universo Criminal, sacado com muito esmero por uma dupla que parece ter à morte à perna e que gosta de habitar nas sombras de um mundo feito de tensão e conflitos maioritariamente interiores. Uma série que Brubaker terá definido, a certa altura, como “uma exploração do carácter de personagens que fizeram más escolhas, coisas terríveis, misturada com explosões de violência e crime aleatórias”.

“Criminal Livro Um: Cobarde/Lawless” (G. Floy, 2019) reúne as duas histórias que deram origem à série. “Cobarde” não poderia começar de forma mais cliché, apresentando-nos a Leo, um tipo discreto e super profissional, que parece andar à procura dos 15 minutos de fama prometidos por Andy Warhol. Para Leo, o mais importante é seguir as regras e não cair no mesmo erro do seu pai, um carteirista de excelência que morreu por falta de disciplina. Por regra, Leo apenas aceita um trabalho que considere ser seguro, sem grandes riscos, mas no dia em que o desafiam, como num concurso de mijo entre rapazes, a provar a sua valentia, poderá estar perto de dar o primeiro passo em falso. Em “Lawless”, quem domina a cena é Tracy Lawless, um bad motherfucker que, na altura de despachar alguém, o faz normalmente sem grandes pressas ou necessidade de deixar uma mensagem verbal ou escrita. Tracy escapou à vertigem da cidade ingressando nas forças armadas, mas quando, anos depois, regressa à cidade, decide investigar a morte do seu irmão, um ladrão e criminoso, apenas para se dar conta de que esta cena da família é mesmo tramada – mesmo quando já não há família por perto.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean Phillips

“Os Mortos e os Moribundos”, que abre o segundo volume da série intitulado “Criminal Livro Dois: Os Mortos e os Moribundos/Uma Noite Má” (G. Floy, 2019), é uma história a três actos, contada sob três pontos de vista diferentes que começa de forma reveladora: “Se querem saber a verdade sobre alguém, sobre quem são e de onde vêm e aquilo que são capazes de fazer, bom ou mau…têm de olhar para o seu passado”. No centro da narrativa está Danica Briggs, uma femme fatale que já conheceu dias melhores, e que sofreu na pele toda a crueldade do mundo. A ela se juntam dois amigos de infância com a amizade por um fio, tudo por causa de heranças familiares impostas e opções de vida mal tomadas. Uma espécie de Magnolia aos quadradinhos onde os mosaicos estão condenados a não ficar bem colados à parede.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean Phillips“Uma Noite Má”, provavelmente a mais delirante das histórias da série, começa com uma citação de Leonard Cohen, também ele um tipo muito dado a gostar de se movimentar nas sombras: “O derradeiro refúgio de quem sofre insónias é um sentido de superioridade em relação ao mundo que dorme”. O rpotagonista dá pelo nome de Jacob, um ilustrador com um método de trabalho que parte sempre de uma migalha deixada de véspera: “Porque aquele última vinheta chama por nós… como uma frase inacabada”. Jacob tem a doença do não dormir, que em parte o ajudou a criar uma tira de BD chamada Frank Kafka Detective Privado, que tem sido o seu sustento nos últimos anos. Os seus dias de tranquilidade insone serão abalados quando, motivado por curvas femininas, a sua veia de ex-falsário começa a pulsar novamente, vendo-se atirado para um poço da morte constituído por algum sexo, muitas mentiras e violência a rodos. O final, esse, é digno de um dos melhores episódios da Twilight Zone.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean PhillipsHistória paralela do universo Criminal é “Os Meus Heróis Foram Sempre Drogados” (G. Floy, 2020), uma novela gráfica que chega em papel mate e propenso à texturização, amigo do espírito da aguarela e da tinta da china que habita esta história sobre Ellie, uma toxicodependente em reabilitação forçada que sempre teve uma ideia romântica sobre o mundo das drogas.

Desde a morte da sua mãe, também ela uma drogada, que Ellie tem feito o seu percurso através da música, tecendo elegias a discos como “Pet Sounds” ou “Hunky Dory”, forjados em boa parte graças ao empurrão de estupefacientes.

Numa clínica de reabilitação acaba por conhecer Skip, com quem ameaça viver um romance ao estilo de Bonnie & Clyde – mas aparentemente sem mortes. A missiva moral, se é que há tal coisa por aqui, será certamente esta: nunca, mas nunca se deve confiar num drogado. Uma história muito bem desenhada – no duplo sentido de argumento e ilustrações – que levou para casa o prémio Eisner para Melhor Novela Gráfica em 21019.

Criminal, Deus Me Livro, G. Floy, Ed Brubaker, Crítica, Sean Phillips

Nas livrarias está também já disponível o terceiro volume da série, que reúne as séries Os Pecadores + O Último dos Inocentes, de que falaremos por aqui em breve. Se há algo que poderemos dizer sobre Ed Brubaker e Sean Phillips é isto: a morte fica-vos tão bem.

CriminalCríticaDeus Me LivroEd BrubakerG. FloySean Phillips

Pedro Miguel Silva

Pode Gostar de

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote, Mil Folhas

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors, Mil Folhas

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista, Mil Folhas

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

Sem Comentários

Deixe uma opinião Cancelar

Siga-nos aqui

Follow @Deus_Me_Livro
Follow on Instagram

Mil Folhas

  • A Mercearia Céu & Terra, Deus Me Livro, Crítica, James McBride, Dom Quixote, D. Quixote,

    “A Mercearia Céu & Terra” | James McBride

    13/05/2025
  • O Céu da Língua, Gregorio Duvivier, Deus Me Livro, H2N Culture Connectors,

    Gregorio Duvivier volta a mostrar-nos O Céu da Língua

    08/05/2025
  • 5L, 5L 2025, Deus Me Livro, Edite Guimarães, Entrevista,

    Entrevista: Edite Guimarães apresenta-nos o 5L

    08/05/2025
  • O Som da Mentira, Amy Tintera, Deus Me Livro, Crítica, Singular,

    “O Som da Mentira” | Amy Tintera

    07/05/2025
  • Dentro da Tenda, Lucie Lučanská, Deus Me Livro, Crítica, Planeta Tangerina,

    “Dentro da Tenda” | Lucie Lučanská

    07/05/2025
Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

Archives

  • May 2025
  • April 2025
  • March 2025
  • February 2025
  • January 2025
  • December 2024
  • November 2024
  • October 2024
  • September 2024
  • August 2024
  • July 2024
  • June 2024
  • May 2024
  • April 2024
  • March 2024
  • February 2024
  • January 2024
  • December 2023
  • November 2023
  • October 2023
  • September 2023
  • August 2023
  • July 2023
  • June 2023
  • May 2023
  • April 2023
  • March 2023
  • February 2023
  • January 2023
  • December 2022
  • November 2022
  • October 2022
  • September 2022
  • August 2022
  • July 2022
  • June 2022
  • May 2022
  • April 2022
  • March 2022
  • February 2022
  • January 2022
  • December 2021
  • November 2021
  • October 2021
  • September 2021
  • August 2021
  • July 2021
  • June 2021
  • May 2021
  • April 2021
  • March 2021
  • February 2021
  • January 2021
  • December 2020
  • November 2020
  • October 2020
  • September 2020
  • August 2020
  • July 2020
  • June 2020
  • May 2020
  • April 2020
  • March 2020
  • February 2020
  • January 2020
  • December 2019
  • November 2019
  • October 2019
  • September 2019
  • August 2019
  • July 2019
  • June 2019
  • May 2019
  • April 2019
  • March 2019
  • February 2019
  • January 2019
  • December 2018
  • November 2018
  • October 2018
  • September 2018
  • August 2018
  • July 2018
  • June 2018
  • May 2018
  • April 2018
  • March 2018
  • February 2018
  • January 2018
  • December 2017
  • November 2017
  • October 2017
  • September 2017
  • August 2017
  • July 2017
  • June 2017
  • May 2017
  • April 2017
  • March 2017
  • February 2017
  • January 2017
  • December 2016
  • November 2016
  • October 2016
  • September 2016
  • August 2016
  • July 2016
  • June 2016
  • May 2016
  • April 2016
  • March 2016
  • February 2016
  • January 2016
  • December 2015
  • November 2015
  • October 2015
  • September 2015
  • August 2015
  • July 2015
  • June 2015
  • May 2015
  • April 2015
  • March 2015
  • February 2015
  • January 2015
  • December 2014
  • November 2014
  • October 2014
  • September 2014
  • August 2014
  • July 2014
  • Contacto